crônica do dia

 

Maravilhas

13/11/00

 

Vivemos para uma eternidade imaginada onde se representam deuses e deusas por nós mesmos criados em mitos e lendas que inventamos. Tudo parece bem se a estrada some no horizonte. O fim se nos afigura insuportável!

O azul rasga buracos entre nuvens rápidas. O vento é frio, o ar, úmido. Na madrugada choveu um tico, mal deu pra molhar. Tem sido assim: homens e mulheres do tempo (e as mulheres do tempo da tevê, hem?, mais preocupadas com a maquiagem que com a meteorologia) pois a gente do tempo anuncia chuva, às vezes, muita água, mas as frentes passam e só caem uns pingos. Logo, volta a dança do pó...

Talvez seja um fenômeno momentâneo - mas um "momento geológico" poderia durar décadas! - talvez o início de uma transformação radical. No nordeste tem chovido à beça. Congressos mundo afora discutem as alterações do clima, o buraco da Antártida, as inundações que europeus pensavam ser coisa de Hollywood etc.

Elke Maravilha, a vedete cinqüentona, em entrevista ao jovem Gugu explica, para espanto do repórter, que são a mesma e única pessoa - ela e o entrevistador. Depois, esclarece: nós, os seis bilhões de pessoas somos todos uma pessoa só. E continua com minúcias: não gosta do Hitler nem do estuprador, partes dela também, mas adora a parte que é o Gugu etc...

Bem, se ela inclui Hitler, seria muito mais de 6 bilhões, teria de incluir a multidão que já morreu. A seiva que alimenta folhas e brotos a cada primavera traz a história de todas as estações da árvore? Ah, essas imagens fáceis, pré-fabricadas...

Não vemos com naturalidade nossa queda do galho, e não nos deixamos levar com leveza pela brisa, para adubar a nova floresta adormecida em sementes.

Preferimos imaginar uma eternidade e representar deuses e deusas em mitos que sonhamos...

|home| |índice das crônicas| |mail| anterior |

 

2451861.264