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Maritacas17/01/02
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"do Aurélio" maritaca jandaia bambu-imperial |
Há novidades por aqui: grandes bandos de aves barulhentas que muitos chamam de maritacas, outros de periquitos e alguns, até mesmo, de papagaios. Como elas, fazemos muito barulho por meras palavras. O nome pouco importa, já se vê. O verde brilhante das penas quase as faz desaparecer quando tomam de assalto a frondosa copa de uma grande árvore. Só se expõem no vôo, contra o céu. Se passam despercebidas ao olhar, são conspícuas pelo barulho que fazem. A algazarra pode ser ouvida de longe e logo chama a atenção. Pode parecer um clamor de alegria ou, em outros momentos, o alarido de lutas e disputas. É uma presença muito mais auditiva do que visual, apesar dos bandos numerosos que, de tempos em tempos, passam em vôos baixos e curtos sempre com muita gritaria. Vem um bando de trinta ou mais pássaros, chegam sem aviso e com a disposição das grandes torcidas de time de futebol. Assustam, ao menos às outras aves, que logo abandonam a árvore escolhida para poleiro temporário, mas ficam por perto, a vigiar. Nem todas as maritacas gritam. Muitas emitem sons mais brandos, mais graves, quase gorjeios. Um som difícil de definir, que lembra o ranger de cordas que se esticam no cais ou o roçar dos bambus-imperiais sob o vento. A agitação diminui aos poucos, até o silêncio. Pode-se ver, então, que elas estão ocupadas, a comer. De repente, um primeiro grito, depois outro, o burburinho recomeça, a grita aumenta e uma primeira voa, logo outra a segue e mais outra... Partem em bandos sucessivos, enchendo o espaço de sons. Quando estão mais longe, o alarido passa a fazer parte do ruído de fundo, e só pode ser percebido se nossa atenção procurar por ele, especificamente. Quase nunca estamos atentos às coisas que se passam em volta de nós. Quase nunca percebemos o que se passa dentro de nós...
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