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Mascotes13/02/07Deveria ter uns três ou quatro anos. Cabelos loiros encaracolados caindo como molas macias de cada lado do rosto. Poderiam ser negros, nunca se sabe. Poderiam nem ser cabelo. Poderia nem haver menina. Hoje, é preciso ver se o plugue play, se não há tormenta no cabo e são boas as esperanças e sei lá que mais, hoje, é preciso conferir se o real o é de fato, porque sempre pode ser virtual. Mas a linda - dissera ser linda? - a linda menina vinha de mãos dadas com a babá. Corpulenta, a babá, além da criança cuidava de um cão, grande, amarelo, que parecia mais amarelo no sol baixo, contraluz. O pelo longo, eriçado, muito bem cuidado e o focinho cônico lhe davam um ar chinês. A criança trazia uma mascote também. Um cachorrinho de pelúcia, castanho claro, bem molinho e macio, que ela arrastava atrás de si por uma coleira fininha. A mascote rolava para lá e para cá no asfalto sujo, pois não existia calçada, o que é comum do lado de cá do fim do mundo. Pequenos, somos todos puros a transbordar alegria verdadeira a cada passo. Para as mães, quase todas, ficaremos assim imaculados para sempre, cegas que são aos pecados dos filhos. Mas logo nos contaminamos, criancinhas ainda, pois sem extrema sabedoria é impossível educar.
A menina pediu para atravessarem a rua para aproveitarem o frescor da sombra de árvores frondosas do outro lado. Àquela hora, era escasso o trânsito de automóveis. Mais tarde seriam muitos, a refletir o humor de seus condutores. Ela ia, sem olhar o cão de pelúcia que arrastava. A atmosfera estava especialmente transparente e se enxergava o horizonte muito longe, com muita nitidez. A luz do sol, já baixo, era suave, apesar de verão. Ao cair da noite, Vênus, a Estrela Vésper, dominava o espaço. Radiante e escandalosa como a descreveu Bandeira, de uma beleza cheia de virtudes, nada virtual. Um escândalo. |
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