A crisálida prendia-se por um fio, com extrema delicadeza, à haste fina e rija do capim. Tais hastes, sustentam as sementes muito acima do capim. Elevam-se quase retas, quase verticais mais de um metro. As sementes evocam o trigo, penduradas em talos mais ou menos horizontais e, milimétricas, balançam quando venta.
Em meio à haste verde e suculenta, a crisálida, ocre - ouro queimado, poderia exclamar algum tubo de tinta -, com um ponto mais claro na parte de cima, como um grande olho. Mimetismo! - imaginei de pronto, mas tudo isto via de longe, pela janela. Para melhor poder contar, peguei uma grande lupa e fui examinar de perto e, ao aproximar-me, o intrumento de detetive se mostrou supérfluo. Uma folha seca e retorcida sobre si se enroscara no talo de capim por obra do acaso ou de uma das muitas aranhas suspensas em mil teias sobre a pseudocrisálida e arredores.
O pecíolo da folha seca tocava o capim mantendo-a, assim, afastada da haste e parte da borda da folha, perto da ponta, também encostava no talo, mais abaixo. A única mariposa que poderia eclodir de tal não crisálida é este relato sobre a infalibilidade dos testemunhos oculares e, dito isto, dou voz ao primeiro oftalmologista!
Claro que um velho não deve confiar em seus olhos nem quando usa óculos apropriados, muito menos quem sempre precisou deles, míope e astigmático, e não os têm.
Por milênios o estigma de São Tomé convenceu a humanidade a acreditar no que os olhos testemunham. No século XIX, neste mesmo caudal, a fotografia se tornou prova insofismável da existência e veracidade do que mostrava. Depois, o computador a substituiu no altar pela imagem falsificada e foi capaz de fabricar 'realidades' mais verossímeis que a realidade.
Melhor faz meu cão que me vê, mas confirma com seu nariz cada passo que dei.
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