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O Mercador26/11/01À beira do caminho que se adivinha no mar de areia nalgum oásis real ou imaginado, descansavam camelos e mercador. O peregrino de todas as fábulas sentou-se próximo, sob a tamareira e falou assim ao mercador: Te esfalfas no calor insuportável do dia e tiritas na noite fria do deserto, quando as estrelas são guia, para conduzir tua mercadoria até a próxima feira e trocar o que tens por algumas moedas. Depois, com essas mesmas moedas, compras novas provisões para tornar a vendê-las mais adiante. Dize, mercador, não te parece absurdo este ciclo, que impede vislumbrar qualquer fim? O Mercador cuspiu a semente da tâmara e ponderou: Não vou bisbilhotar o que fazes, tu, pois não se trata de opor nossos modos de viver para decidir qual o melhor. De cada ciclo completado, da compra e da venda, seja lá do que for, sempre me sobra para comer e dar de comer aos meus animais, para comprar de outros mercadores as roupas que me protegem do sol impiedoso e das noites de frio, do açoite dos ventos e das chuvas raras e inoportunas que nos podem surpreender. Não assalto o viajante nem furto o que a outro pertence. Não me parece haver aí nada errado. O peregrino retrucou: Um dia, te verás próximo ao fim dessa jornada e, ao olhar para trás, o pó terá coberto tuas pegadas e lamentarás não ter deixado algum marco em tua passagem, algo que possa servir aos que vierem depois. O mercador mordeu outra tâmara e mastigou com calma sua polpa antes de dizer: Muitos antes de mim fizeram coisas notáveis e legaram obras úteis aos que sucederam. Usamos e desfrutamos destes feitos com a mesma naturalidade com que me sirvo do fruto desta palmeira. |
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