Publicação esporádica, a perder-se como berro de vaca, que todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.
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O mosquito02/05/08A chuva me faz ainda mais preguiçoso. Diante de sua toada monótona invade-me uma espécie de letargia contemplativa, como se quisesse entregar-me em espírito à água derramada e só me acodem imagens estapafúrdias, Macondo à frente. Nas lorquianas águas vêm ecos do cancioneiro popular - "As águas vão rolar..." "Chove chuva, chove sem parar..." "Choveu, a chuva jogou meu barraco no chão..." -, ecos da professorinha a mostrar como mágica o ciclo capaz de purificar a água e no-la devolver gota por gota ou às pedradas, de tempos em tempos... e a preguiça flutua nessas águas imaginárias também como eco de Macunaíma: "Que preguiça!" E, todavia, segunda-feira estaremos apenas no meio do outono. Se fosse árvore em vez de gente, na certa estaria radiante. Será? Como saber se a planta prefere rega a luz plena do Sol? Luz, para ela, é alimento. Pelo sorriso, talvez, pela alegria da vegetação. Tudo resplandece e brilha lavado, ainda que sob luz difusa. E brota, e abusa de ser viçoso! Passarinho não tem despensa e cumpre buscar a refeição com sol ou chuva que, agora, cai leve como se lhe fosse possível parar... Chega uma corruíra, como a chamam por aqui - cambaxirra e até rouxinol, alhures - e pousa, alerta, no talo forte de uma folha larga, grande e se abriga, assim sob outras iguais. Parece procurar insetos. De repente, dá um salto, vira 180 graus no poleiro e voa, alheia às gotas que suas penas repelem. Trégua! Por um momento a chuva pára. O branco clareia na abóbada. Segue um dia útil talhado para espreguiçar e preguiçar, recheio do feriado universal com fim de semana, semana desde quarta-feira a findar. A pausa foi efêmera e já engrossam os pingos. Represas transbordam, encostas escorregam, rios e cataratas se exibem com espalhafato. Entre tantos, o mosquito achará mais poças para procriar. |
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