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Na ponta da linha16/11/01Minha avó costumava reclamar cada vez que precisava escrever açúcar por causa do cê que veio substituir os dois esses. Quando ela aprendeu era assucar, com dois esses e sem acento, depois reformaram. Muda-se a ortografia, o que em nada altera o Homem. Eu passei muito tempo a procura do húmido ou humidade, com medo de estar mais louco do que sempre fui ou com amnésia precoce. Sim, me dizia, que diabos fizeram com aquele agá? Por acaso, encontrei a velha humidade em um dicionário português, não só da língua portuguesa, mas editado naquele país. Lá estava: em Portugal humidade manteve a primeira letra da palavra latina de onde veio. Do mesmo modo que em francês é humide. O mesmo aconteceu com húmero, que agora é úmero no Brasil. A língua evolui, dona Sabrina, e não há aqui nenhuma malícia. Evolui, parece, para permitir melhor comunicação entre aqueles que a usam e, de novo, caríssima Sabrina, não falo do que poderia parecer mas apenas de como é difícil a comunicação, com palavras, que ora parecem uma coisa, ora outra e não passam, afinal, de substrato para o que importa de fato. Ah, como somos falados! Ah, quanto repetimos automaticamente frases, modos e opiniões! Ele me assinala: - Notou que os repórteres nunca mais falaram com alguém ao telefone? Os entrevistados, comentaristas ou outros repórteres estão sempre na ponta da linha. Não havia notado. Era verdade. Um gigantesco tear com pessoas na ponta de cada fio! Depois que o amigo me alertou, vi que são muitos os cacoetes... Logo senti que deveria fazer o dever de casa em vez de empurrar com a barriga mas não basta fazer uma colocação objetivando impactar o país como um todo para alavancar os corações. Vale lembrar que quando se é a bola da vez cumpre redobrar a atenção para não ser preciso, depois, correr atrás do prejuízo... Como é mesmo? Cá está, na ponta da língua: na ponta da linha - agora, que só se usa telefone sem fio! |
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