29/11/10
Vamos até ali, aonde é mais amplo o horizonte, para testemunhar outra vez a rotação da terra a erguer o recorte de picos e morros sobre o disco fulgurante do sol. É óbvio, o disse com palavras diretas e mais objetivas, como qualquer um ao convidar alguém para assistir ao pôr-do-sol, mas fala-se uma língua e se escreve outra. O sol se aproximou, branquíssimo, do horizonte, sobre o qual se rasgavam finas fatias de nuvens. A luz intensa tornava difícil encarar nossa estrela, mesmo ao tangenciar o perfil dos altos distantes. Uns dois minutos depois, corriam-se as cortinas com o The End daquele espetáculo. Concordamos, fora um pouco decepcionante. Nada dos rubros e laranjas luminosos nem cores cintilantes a imitar neons e bordar nuvens com beiras trabalhadas em rosas e dourados - tudo muito transparente com máxima economia cromática. Nos dissemos ainda: é, é a atmosfera suja que produz os pores-do-sol mais espalhafatosos... A mesma transparência atmosférica, todavia, reservava para algumas horas mais tarde um espetáculo admirável, sempre grandioso e questionador. O sábado descambava para o domingo e a noite se fez sem alarde. Corremos todos à luz elétrica, a desenhar feéricas nossas cidades na escuridão. Por volta da uma e meia, mais ou menos, pelo horário de verão, saí sem acender luz para o quintal e voltei meu olhar para a imensidão repleta de estrelas, tantas e tão maravilhosas como há muito não se via por aqui. Órion no vértice da abóboda, no alto do céu, o gigante desenhado com mais precisão por mais estrelas de menor grandeza, cortado na cintura pelas Três Marias, seu cinturão. Perto, a sueste, o brilho incomparável de Sírius. E mais uma vez, no silêncio de uma noite estrelada, um ser humano se viu pasmo ante a escala com que o universo se lhe impunha na tela enorme dos céus. |
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