A arte imita a vida, diz o aforismo antigo, ou seria a vida a repetir a inspiração do artista, perguntam outros. A obra do Homem o reflete, qualquer que seja. Ele surge como é na cozinha ou ao divulgar um fato, na arte singular do noticiar.
Por toda parte se mostram imagens de comida, de pratos requintados cujo sabor só pode imaginar, de arranjos feitos com alimentos dignos de um mestre da escultura ou dos pincéis. O resultado é uma obra de arte visual, para ser devorada pelos olhos em página de revista ou telas digitais. É irrelevante à fotografia de comida se o prato agrada ao paladar ou nutre o corpo. Um livro cheio dessas imagens da arte culinária - em um dos sentidos, pelo menos - é absolutamente inútil a quem tem fome, talvez seja até nocivo.
Para dizer, no rádio, se vai chover ou se a canícula perdurará, enuncia-se uma lista de patrocinadores. Apresenta-se a notícia elementar como um prato japonês. Num oferecimento disso ou daquilo, em especial deferência do poderoso tal, anuncia o locutor ou, às vezes, um repórter fanhoso ou gago ou de timbre esganiçado. Até para a hora certa tem patrocínio!
É a notícia como prato saboroso ao olhar. Torna-se rebuscada a coisa mais simples para a levar aos ouvidos do público travestido de cliente, consumidor, contribuinte, isso e aquilo. (Gente, apenas gente? Nem pensar. Baniram-se rótulos pelas ruas, mas eles continuam a empestear.)
Tanto nos pratos como na informação trivial se prioriza o aspecto, a aparência. Aos poucos transformamos nossas vidas em passarelas permanentes onde desfilam fachadas de boas intenções para colher efêmero aplauso ao efeito de um brilho fugaz.
Nos encanta tanto a beleza que, com facilidade, a aceitamos como substituto de feijão com arroz, bife e salada mista. Que fazer, somos fruto da escolha da mais bela...
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