autorretrato 

O longe

24/11/14

Envolto em névoa o domingo se fez noite enquanto uma bruma se espessava sobre o mar a tornar o horizonte apenas uma insinuação. Em dias de sol, após ventanias aquela linha imaginária pode parecer traçada à bico-de-pena. Nela, em geral, se delineiam uns poucos navios fundeados ao largo. É precioso o longe para o enxergar! No Japão e nas arábias já se edifica sobre o mar, mas isto custa muitíssimo dinheiro e, por enquanto, amplos oceanos garantem vastos horizontes e dispõem o impreciso longe para deleite do olhar.

Contei uma vez o estrago produzido por uma fiada de outdoors colocados ao longo de uma avenida a serpear por um espigão. Antes de qualquer construção, acabaram com o longe, na ignóbil missão de assenhorear-se de mentes descuidadas. A primeira coisa que a civilização nos rouba é o horizonte, disse então, ou algo assim. O horizonte, antes estendido de leste a oeste, desaparecia atrás do tapume de cartazes propagandísticos e só quem estava acostumado a percorrer aqueles longes todos os dias, à pé e com o olhar a perscrutar a metrópole distante, podia sentir a violência daquela agressão.

Agora, em outra paisagem, o Atlântico garante ainda um longe para o olhar. Quão longe estaria a imprecisa e imaginária linha? Difícil dizer: ela muda (e muito!) conforme nossos olhos se elevam em relação ao mar (por ser a Terra quase uma esfera) e muda, também, em função da pressão e temperatura nas camadas baixas da atmosfera, capazes de desviar a luz e nos mostrar o que a simples geometria nos impediria ver. (As miragens, nos desertos, resultam desses desvios pelo ar superaquecido junto ao chão).

Hoje, pela manhã, o sol se insinuou através da neblina ainda densa a apagar os prédios mais distantes e, rapidamente, a dissolveu e brilhou forte, mesmo com um ralo véu de nuvens a esmaecer o azul.

Mon, 24 Nov 2014 10:08:51 -0200

Oi Clode... estou há algum tempo me preparando pra te visitar... mas eis que o Eg me diz que você mudou para o Rio... Achei muito bom, mais apropriado pra você, praia, perto dos netos. Como está aí? Quando você foi? Em que lugar está morando? E sua casa na Granja, você vendeu? Ficou bem de saúde? Bem, a Sula está morando aí. Eu praticamente nunca vou, mas quem sabe nos vemos hora dessas pelas bandas cariocas...
beijo grande
Bettina

Sim, conversei com o Eg e, se estivesse em São Paulo teria ido à festa-surpresa. Parabéns, anyway.

Mudei-me na inauguração da primavera, dia 20 de setembro. Ontem recebi uma visita-surpresa de meu filho e meu domingo foi delicioso por isto. Moro em Copacabana. A casa está lá, abandonada. ainda teremos que providenciar esvaziar e vender. A saúde vai mais ou menos. O Eg falou-me da Sula aqui e da eventualidade de nos vermos nestas bandas. Obrigado.


Date: Mon, 24 Nov 2014 10:47:08 -0200

"A primeira coisa que a civilização nos rouba é o horizonte…"

Gostei muito, Clode!


bj

      sem assinatura

Que bom! Depois que ficamos rodeados de construções esquecemos o deleite de de olhar longe, longe... Vivi muitas vezes essa perda com a chegada de vizinhos por todos os lados...


Mon, 24 Nov 2014 18:26:12 -0200

Como Mermão escreve bonito...

Mesmo!

beijos

      sem assinatura

Merci.


Mon, 24 Nov 2014 13:14:51 -0800

gostei da conversa sobre horizonte ...
bjs

      sem assinatura

Que bom!


Tue, 25 Nov 2014 08:28:18 -0200

Muito bonito, amigo
É uma coisa de que sinto falta aqui em casa, ver o longe.
E é do que mais gosto na praia - e na casa da minha irmã, que fica no alto e tem um longe bem longe, pra lá de Niteroi...Quase a baía toda...
Bjs
Ana

Pois é... muitas vezes já invejei os pássaros, até urubu, por poderem galgar os pontos de vista que têm.

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