O papel do papel

21/02/17

O papel do papel ou, para eliminar qualquer ambiguidade, le rôle du papier. O calembur diverte, mas o assunto de onde emergiu é áspero, enfadonho e amplo: em todos os patamares da sociedade humana, o papel (rôle) definido pelo cargo é mais determinante do que seu eventual ocupante.

Importa menos o ministro ser fulano ou beltrano que o título de ser ministro disso ou daquilo. O cargo, seja qual for, implica um papel previamente definido a ser desempenhado e o arcabouço social obriga o ocupante a cumprir ritos e determinados atos conforme as expectativas.

Uma vez investido no cargo, seja o de presidente da república ou chefe de uma estação ferroviária, o ocupante em pouco tempo percebe a imensa quantidade de pendências a sua espera e o quanto é impossível qualquer guinada brusca e, muito menos uma inversão de sentido no desenrolar dos acontecimentos.

Para sedimentar as coisas tais como estão, ao mesmo tempo o novo ocupante aprende sobre benefícios inerentes àquele cargo e, por eles deleitado, se adapta com mais facilidade aos papéis previamente estabelecidos para si. Acomoda-se e, assim, mais uma vez prevalece a importância do papel, seja de presidente, ministro, chefe, encarregado ou estafeta.

É espantoso nos iludirmos com tanta facilidade, a cada definição dos ocupantes de cada cargo, público ou privado, imaginando ser melhor (ou pior) um ou outro candidato. Ser presidente dos Estados Unidos da América implica comportar-se assim e assado, decidir sobre isso e aquilo e até falar ao mundo segundo um roteiro do qual não se pode desviar mais que o previsto.

Se observarmos com isenção, a máquina social segue com a inércia incomensurável de seu tamanho enquanto a pantomima da democracia ou ditadura é desempenhada por atores de ocasião. Nela, o papel dos diferentes papéis é decisivo.

Tue, 21 Feb 2017 15:36:16 -0300

e a população, fazendo o papel de sempre...

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Pois é... mas apenas após a publicação me dei conta de que a tradução correta seria ainda "le rôle du rôle", ou seja, de nada serviria usar a língua francesa. Ficou o absurdo e, agora, ficará.


Wed, 22 Feb 2017 09:55:38 -0300

O trocadilho (tive que olhar calembur no dicionário, não conhecia...) é ambíguo mesmo. Mas acho que em francês também seria Le rôle du rôle - porque papier é o papel de escrever mesmo, não é? Fica menos ambúguo porque eles têm as duas palavras, nós não...

Bjs
Ana

Certíssima!

Só percebi meu engano depois de publicar. Até pensei em fazer uma errata, mas desisti quando outra leitora descordou desta nossa opinião. Agora, fica com o erro, prova cabal de quanto e como posso me enganar. Obrigado pela correção, sim deveria ser le rôle du rôle...

bjs, c.


Wed, 1 Mar 2017 20:23:56 -0300

E não é que você lembrou até dessa época. E impressionante da sua lembrança. E eu nem sei meu nome direito. Verdade! Esqueço tudo ao redor. Até a coisas mais banais. Mas dá pra se viver de um maneirinha humilde em matéria de informação, né?
bjo..
bem aí o obrigatório Jornal Nacional... faz parte do meu trabalho, faz um tempão.

      sem assinatura

Tem muita coisa que eu também não lembro, não posso exemplificar justamente por que não consigo lembrar... kkkkkkkkk

Claro que dá e a vida continua bonita como cantou o Gonzaguinha.

Eu não costumo ver o Jornal Nacional, ainda vivo na Era do Rádio.

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