Agora, nuvens navegam serenas de sudoeste para nordeste. Nos espaços azuis, o Sol sorri de tempos em tempos. No mais, sua luz oscila como se alguém, com um reostato, brincasse de iluminar o dia. Rajadas de vento ocasionais fazem gemer o bambual por grossas varas a se esfregarem. Aumenta a umidade como benção ou ameaça mas, ontem, em noite quente, do céu cheio de estrelas nos sorria a Lua como adaga de luz de bandeiras do oriente. Impávida, sob a escolta de dois planetas, Marte e Saturno, se fazia em sorriso imenso no poente.
Há muito tempo, aprendi que a Lua sorri, aqui, neste trópico do sul, ao menos em certa época do ano. Minha professora foi uma norte-americana recém-chegada ao Brasil, que se maravilhava demais com o crescente horizontal na abóbada e, segundo ela, não existia assim, como sorriso, nos céus de sua pátria.
Ontem de fato, quando topei com a fatia luminosa de Lua no céu, a se esbater no horizonte onde o Sol se escondera em claridades terminais, a Lua me pareceu mesmo ícone, como os que se usam nos bate-papos de computador, sorriso grafado em luz na escuridão.
Agora, quase meio-dia, varreram-se todas as nuvens e o céu se estende azul da ponta a ponta. O vento persiste como sopro de fria umidade, mas o dia se impõe belo a convidar toda vida ao calor da radiação.
Pia um bem-te-vi. Com poderoso alto-falante, o caminhão de gás se anuncia. Cães ladram e, de repente parece que tudo esperava o Sol se impor para aparecer.
Teria o Homem se maravilhado mais diante do vazio imenso cheio de estrelas em uma noite límpida há mil, dois mil anos? Como resposta e enigma, do céu a Lua me sorriu...
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