Acabou a novela. Acabou um imposto, filho bastardo do dízimo ao molho pardo do sangue de quem, hoje, seria chamado de insurgente e, com os fins, recolhe sua lona o circo do Parlamento a inaugurar a temporada de orgia, samba e etanol, tempos que nestes trópicos escorrerão até que a última passista abandone a sombra do arco de Niemeyer na alvorada de uma quarta-feira de cinzas... Foram meses de falação sobre o 'imposto do cheque', chamado de contribuição para driblar o que, a um imposto a Lei vedava, a "Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira", a tal da CPMF e eu, que muito ouvi, continuei a espera do óbvio, de um único comentário sobre a faceta mais escancarada do absurdo, mas nela ninguém tocou. Não ouvi uma voz apontar o contra-senso na elaboração de um orçamento com a inclusão do ovo de ouro a ser posto pela galinha já morta, ensopada e servida com batatas coradas. A Constituição determinava com precisão o momento do fim do imposto disfarçado de contribuição: o espocar dos foguetórios de Ano Novo. Apesar de assim explícito, o OU, ou Orçamento da União, contou com o ovo da galinha morta para pagar algumas contas. Estava lá, na que tem o apelido de Carta Magna: acaba, morre, é extinto no fim do ano. E daí? Vamos levar o cadáver para o próximo ano, lá a gente arruma um milagreiro para ressuscitar o defunto. Não deu - os senadores gozaram daquele instante inglório da glória efêmera dos pequenos poderes. A novela acabou. Sempre pronto a aprender, já estou preparando meu OPS! - orçamento pessoal singular! - para 2008. Nele meti, disfarçado de contribuição, o grande prêmio da Mega Sena, que deverei ganhar no sábado de carnaval, dia nove de fevereiro. Se um raio, de fato, não cai duas vezes no mesmo lugar, não tenho como não ganhar, sozinho, a bolada que até lá se acumular... |
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