Padre Eloi era famoso pelo tamanho das filas que provocava. Seu confessionário, a contrastar com os de outros padres da mesma paróquia, que se perdiam em contemplações de imagens e velas a se consumirem entre fumos e tremeliques, na busca de dissimular o abandono em que os fiéis os largavam, no de Padre Eloi, dizia, a fila emprestava à matriz um toque de agencia da Previdência ou bancária.
A senhora de meia idade, mais para idade do que para meia, ajoelhou-se no confessionário de Padre Eloi e, após os ritos de intróito, confessou: ah, meu santo Padre Eloi, estou perdida. Desta vez o demônio ganhou a batalha e pôs por terra o bom Deus e foi escolher logo meu corpinho por terra de ninguém para sua guerra suja, meu bom padre, ah, o senhor não pode imaginar o estado em anda este corpinho cansado, padre, meio usado, é verdade mas... pensa que tá morto, pensa, não tá não, tá vivinho da silva, meu santo, e o senhor nem imagina como!
Eloi reclinou-se no fundo do confessionário, ela não pararia o desabafo. Vinham por isso: não iriam a analista, jamais se deitariam em divã, mas Padre Eloi estava lá, sempre a postos, e de graça. É verdade que a maioria pingava moedas na sacola, meras migalhas.
Prosseguiu: aconteceu que o diabo me mandou, lá na escola, o senhor lembra de mim, né Padre Eloi, sou a dona Laura, diretora da Escola Santiago, aqui perto, pois não é que Satanás me manda um professor... ah, Padre Eloi, que homem, Padre Eloi! Quer dizer, pra falar a verdade, veio o casal, sim, porque chegaram os dois, ele e a mulher, os dois queriam dar aula... mas ele é lindo, Padre Eloi e me faz pecar, todas as noites eu sonho com aquele rapaz, sim, por que se trata de um menino, de perfil grego, garboso, ah, padre, o senhor não poderia imaginar de que loucuras uma mulher apaixonada, ainda que meio passada, é capaz! Não preciso dizer, né...
a continuar
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