Primeiro foi o fascínio com a aparência. Poder escolher
a cor, o tipo, a cor do tipo e a do fundo... tudo! Parecia mágico,
mas sobretudo me deleitavam as minúcias, minúsculas,
na escolha da cor. Adorei as chamadas "marquees", -
fáceis, poderosas e flexíveis -, mas logo descobri
que só um terço das pessoas poderiam vê-las
em movimento, por conta das brigas e picuinhas dos fabricantes
de programas... Depois, vieram as animações, a redescoberta
do cinema, poderia dizer. Essa culminou com o sapo. Estava lá,
era simpático, comia regularmente sua mosca, e funcionava!
Hoje, caminho na rota inversa, sentido, prefeririam alguns. No
sentido inverso. Compreendi que as cores que vejo e me deliciam,
não são, necessariamente as mesmas, que chegam para
cada um. Descobri isso de uma modo nada poético ao perceber,
certo dia, que um belo fundo cor de cobre, para mim, tinha se
transformado em outra cor, capaz de provocar a pergunta crua -
Por que você escolhe essa cor de merda? - E não era,
absolutamente, uma metáfora. Naquele monitor estranho,
só faltava o cheiro. Havia perdido meu cobre, mas levava
de troco, esse tostão de compreensão.
Não, dona Sabrina, não falo de peças de vestuário
nem de produtos de beleza, malgrado os desprazeres que eles também
possam produzir. O assunto aqui são estas páginas
mágicas, com os tais vínculos, ligações,
uniões, ou como quer que venha a se definir a tradução
de link, até mesmo, linque, já que cadernos de informática,
de nossos melhores jornais, conjugam sem cerimônia todos
os tempos do verbo atachar. Dizia apenas que, no começo,
Frederico queria todas as cores, todos os enfeites e penduricalhos
e, sempre que possível, um pouco de animação.
Páginas que mudam de cor, linhas animadas, janelas, quadros
divisórios - que chamam de freimes - e tudo que pudesse
piscar e ofuscar. Aí percebi que o resultado caminhava
célere para algo parecido com certas mulheres, que colocam
uma tal quantidade de cremes, batons, ruges, pós, de arroz
e outros, rímel, sombras, brilhos, sem falar dos ouros
e pérolas, uma tal quantidade, que a mulher, a fêmea
da espécie sapiens, simplesmente desaparece. Você
olha e a mulher não está mais lá. Cadê?
Sumiu, mas não foi o gato que comeu...
Assim na terra como no céu, ou seja: assim com as páginas
como com a mulher. Você procurava e era aquele vazio: textos
curtos e bobos. Em verdade, em verdade, o fascínio era
todo visual - o homo, mesmo antes de sapiens, sempre morreu pelos
olhos, como os peixes pela boca - e ficava a mentira disfarçada
de desculpa - outra hora volto, para botar o recheio aqui - enquanto
isso, belos pasteis de vento...
Agora, olho para uma página simples como quem olha a mulher
despida de qualquer maquilagem. E cismo: o que quer que façamos,
onde quer que ponhamos o dedo, deixamos a marca de nossos tormentos,
como impressão digital. Fica lá, independente de
nossos desejos. Estas páginas, com a magia de embutir comandos
no próprio texto, surgiram há décadas, e
o deslumbramento estava aí, nesta essência, no fato
simples de poder ligar vários textos, os pedaços
dispersos de pensamentos de diferentes cérebros, no apertar
de um botão. Quase como se os neurônios tivessem
descoberto a possibilidade das sinapses! Agora, cantam-se hinos
e loas porque num pedaço minúsculo de tela pode-se
assistir a um programa de televisão...
Ah, a página branca - ou até sem cor, que terá
a cor de fundo que você escolheu em seu computador - e as
letras quase pretas, pois como "defaut" usa-se um cinza
bem escuro, ligeiramente amarelado, mas diferente do preto absoluto.
Simples, fácil de fazer, de ler e de imprimir...
Publicado em 19 de agosto de 1997.
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