Nostalgia da página branca




19/08/97


Primeiro foi o fascínio com a aparência. Poder escolher a cor, o tipo, a cor do tipo e a do fundo... tudo! Parecia mágico, mas sobretudo me deleitavam as minúcias, minúsculas, na escolha da cor. Adorei as chamadas "marquees", - fáceis, poderosas e flexíveis -, mas logo descobri que só um terço das pessoas poderiam vê-las em movimento, por conta das brigas e picuinhas dos fabricantes de programas... Depois, vieram as animações, a redescoberta do cinema, poderia dizer. Essa culminou com o sapo. Estava lá, era simpático, comia regularmente sua mosca, e funcionava!

Hoje, caminho na rota inversa, sentido, prefeririam alguns. No sentido inverso. Compreendi que as cores que vejo e me deliciam, não são, necessariamente as mesmas, que chegam para cada um. Descobri isso de uma modo nada poético ao perceber, certo dia, que um belo fundo cor de cobre, para mim, tinha se transformado em outra cor, capaz de provocar a pergunta crua - Por que você escolhe essa cor de merda? - E não era, absolutamente, uma metáfora. Naquele monitor estranho, só faltava o cheiro. Havia perdido meu cobre, mas levava de troco, esse tostão de compreensão.

Não, dona Sabrina, não falo de peças de vestuário nem de produtos de beleza, malgrado os desprazeres que eles também possam produzir. O assunto aqui são estas páginas mágicas, com os tais vínculos, ligações, uniões, ou como quer que venha a se definir a tradução de link, até mesmo, linque, já que cadernos de informática, de nossos melhores jornais, conjugam sem cerimônia todos os tempos do verbo atachar. Dizia apenas que, no começo, Frederico queria todas as cores, todos os enfeites e penduricalhos e, sempre que possível, um pouco de animação. Páginas que mudam de cor, linhas animadas, janelas, quadros divisórios - que chamam de freimes - e tudo que pudesse piscar e ofuscar. Aí percebi que o resultado caminhava célere para algo parecido com certas mulheres, que colocam uma tal quantidade de cremes, batons, ruges, pós, de arroz e outros, rímel, sombras, brilhos, sem falar dos ouros e pérolas, uma tal quantidade, que a mulher, a fêmea da espécie sapiens, simplesmente desaparece. Você olha e a mulher não está mais lá. Cadê? Sumiu, mas não foi o gato que comeu...

Assim na terra como no céu, ou seja: assim com as páginas como com a mulher. Você procurava e era aquele vazio: textos curtos e bobos. Em verdade, em verdade, o fascínio era todo visual - o homo, mesmo antes de sapiens, sempre morreu pelos olhos, como os peixes pela boca - e ficava a mentira disfarçada de desculpa - outra hora volto, para botar o recheio aqui - enquanto isso, belos pasteis de vento...

Agora, olho para uma página simples como quem olha a mulher despida de qualquer maquilagem. E cismo: o que quer que façamos, onde quer que ponhamos o dedo, deixamos a marca de nossos tormentos, como impressão digital. Fica lá, independente de nossos desejos. Estas páginas, com a magia de embutir comandos no próprio texto, surgiram há décadas, e o deslumbramento estava aí, nesta essência, no fato simples de poder ligar vários textos, os pedaços dispersos de pensamentos de diferentes cérebros, no apertar de um botão. Quase como se os neurônios tivessem descoberto a possibilidade das sinapses! Agora, cantam-se hinos e loas porque num pedaço minúsculo de tela pode-se assistir a um programa de televisão...

Ah, a página branca - ou até sem cor, que terá a cor de fundo que você escolheu em seu computador - e as letras quase pretas, pois como "defaut" usa-se um cinza bem escuro, ligeiramente amarelado, mas diferente do preto absoluto. Simples, fácil de fazer, de ler e de imprimir...

Publicado em 19 de agosto de 1997.

 

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