Tempo é dinheiro, disse um americano. Claro que foi um
americano que o disse, embora eu não possa prová-lo
a não ser pelo sotaque: taimismanei. E, americano, é
como chamamos, fraternalmente, aos norte-americanos, pois, ao
pé da letra somos americanos também. Se sotaque
é pouco como prova e o leitor eventual - talvez único!
- dessa página cogita que poderiam ter sido os ingleses,
digo logo que basta olhar a pressa de cada país para dissipar
qualquer dúvida. A despeito do Big Ben e da linha zero
do tempo, que passa ali, nas esquinas dos ingleses, rivalizando
com a do equador, os americanos correm mais, inclusive na hora
do chá. Por que era mesmo que comecei a falar de tempo
e dinheiro?
Ah, sim, para falar de ladrões, lembrei, de um pequeno
assalto, que se repete dia após dia, nas nossas barbas,
quer dizer, nas barbas dos homens e nas cabeleiras das mulheres.
Assalto que, apesar de pequeno em cada caso isolado, acaba gigantesco
pela insistência e multiplicação...
Dificilmente o leitor hipotético - sempre se precisa do
interlocutor, seja ele ouvinte ou leitor, real ou imaginado. Eu,
pelo menos, não consigo escrever sem imaginar quem me lê.
Pois não creio que esse leitor possa afirmar que jamais
foi assaltado assim. Falo da fila, essa instituição
nacional. Nem precisa mais pedir por favor, formem uma fila aqui;
as pessoas já chegam em fila, parece até que já
nascem em fila e seguem, sempre em fila, pela vida a fora. Tudo
bem: fila para comprar pão, fila para ir ao cinema, fila
para pegar ônibus, fila para pôr carta no correio
(hoje, 99% das pessoas desta fila estão ali para comprar
loterias), fila para cumprimentar a noiva, fila para tudo. Já
é um abuso, mas tem uma fila pior que as outras e, pior,
no pior sentido. A fila que assalta, a fila do banco. Porque se
tem alguém que sabe, melhor que ninguém, que taimismanei,
esse alguém é o dono do banco. Sei que não
é fácil ser dono de banco. Conheço um mendigo
(hoje promovido a sem teto) que é dono de um, mas precisou
lutar muito para preservar sua propriedade. Muitas vezes, chegava
para dormir em seu banco e já havia outro, sem teto, sem
comida, quase sem roupa aconchegado lá. Era preciso expulsá-lo,
afinal, aquele banco, naquela praça, era dele. Mas falava
de outros bancos e outros donos...
Os donos de banco sabem muitíssimo bem quitaimismanei (poderia
ser o nome de uma nova religião, talvez?) e, por isso mesmo
preferem ficar com saldo de taime a seu favor. Afinal, não
é só do taime que sub-repticiamente subtraem de
seus cliente que vivem esses outros donos, desses outros bancos...
Meia hora do Zé, vinte minutos da dona Sabrina, uns quinze
do Manuel e mais os quebrados do Toshiro e assim, no final do
dia, deu-se o milagre da multiplicação das horas.
Um banco confessa que tem um dia de 30 horas. Mas se for ver no
caixa dois talvez sejam uma três mil ou mais horas, roubadas
sutilmente de seus clientes... Afinal, taimismanei, ou não?
Mas pode não ser nada disso também, para que economizar
em algo tão minúsculo como o salário de um
caixa? Talvez, por trás dessa filas hediondas, haja motivos
ocultos que até ao terapeuta é difícil confessar.
Galbraith fala, num livro que perdi, mais ou menos o seguinte:
de nada adianta ser rico se não se puder ostentar a riqueza
e descreve as bengalas e panamás, além de outras
ninharias, como detalhes de exibicionismo de uma sociedade afluente
(creio que era esse o nome do livro). Ora, tornou-se perigoso
exibir tesouros pendurados pelo corpo e a fila do banco, além
de roubar minutos, humilha e quem humilha está exibindo
seu poder...
Alguém disse quimaneispauer?
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