Gostaria de ser capaz de escrever uma crônica simples, com começo, meio e fim, curta como estas e direta como jamais consegui, mas sempre me perco pelo caminho, me distraio com uma palavra ou outra e mudo de assunto à toa, de sorte que quando quero voltar já não acho o fio da meada, o tal que permite ao herói sair ileso do Labirinto.
O mundo zune ao redor. Há tramóias de políticos, a roubalheira de outros, miséria sob o tapete, a fome muda, o zero à direita ou à esquerda conforme interesses das pesquisas, há o pesquisador e a pesquisadora perfumada e fogosa; cavalos árabes que ganham e perdem na Gávea e Cidade Jardim; há promiscuidade a se reproduzir e multiplicar vidas sob viadutos e pontes e frestas das cidades, nos vãos de pedras lambidas de mar; há crianças perplexas de olhos parados em Cinelândias e Bogotás ou onde for e calor a cozinhar e tostar e frio.
Frio a sugar toda energia e matar moscovitas a menos de zero, rumo ao nada como há o pio da pequena corruíra que, de tão belo, no Nordeste chamam de rouxinol e mais e mais e em meio a tudo queria ser capaz de fazer uma crônica simples sobre um fato me deixou pasmo: a morte do filhote de baleia que foi flertar com o Big Ben.
Não pelo animal ou por sua viagem incomum. As baleias me impressionam quantitativamente - quantas toneladas, quantos metros, quantos litros etc. Suas habilidades vocais e, eventualmente, musicais, não me dizem respeito.
O que me deixou perplexo com a morte do filhote veio do que aprendi: fora da água, uma baleia, morre esmagada por seu próprio peso! Foi sua causa mortis que me deixou boquiaberto.
Arquimedes, o da "eureca", poderia completar a cena, protegido do frio desta vez, e alertar sobre risco que corria o animal, calcular o volume de água que desloca... ou lhe pediriam que calculasse se o ouro da coroa da Rainha era puro, ou não?
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