Pendurada nas nuvens
17/03/16
A chuva chegou mansamente, sem trovoadas, conspícua apenas pela soma dos leves ruídos de cada gota contra o chão, a parede, a folha ou outro obstáculo, mas chegou forte, volumosa apta aos mais altos índices pluviométricos. Desprovido, aqui, de um pluviômetro (na Granja, improvisava alguns) resta-me, com luz do dia, avaliar a quantidade de água derramada pela alteração da transparência da atmosfera, pois a luz se difrata, reflete e refrata em cada gota, resultando uma espécie de véu interposto entre o olho e o longe. Os prédios mais distantes aparecem, então, como se em meio a densa névoa, mas é apenas chuva, água, muita água a despencar. (Ouvem-se agora, ainda longínquas, algumas trovoadas). Chuvaradas como esta reafirmam meu espanto ao imaginar tanta água em suspensão! Vemos as inundações, as enxurradas a arrastar tudo e matar plantas, bichos e pessoas e o volume da água a rolar nos impressiona mas, quase nunca, atentamos a fato de estar toda ela, pouco antes, lá no alto, pendurada nas nuvens. Logo imagino nuvens grávidas, grávidas de tanta água. Mais tarde virão as notícias de transtornos na circulação pela metrópole, de prejuízos e perdas, principalmente para os mais pobres, das consequências de tanta água a correr para o mar ao mesmo tempo. Pelo som, pareceu-me ter-se aplacado um pouco a tormenta, fui ver mas, visualmente nada mudara, muita água em pouco tempo.
Chuva forte sem cheiro de terra. Sem temer a queda dessa ou daquela árvore. Sem as inevitáveis goteiras - fruto do acúmulo de folhas sobre as telhas -, sem o ruído característico do gotejar sobre as folhas plissadas cujo nome nunca encontrei... A chuva forte finalmente diminui. Continua a chover, uma chuva "normal" - os prédios distantes já se delineiam com maior contraste e mais detalhes. A chuva aperta outra vez... |
Thu, 17 Mar 2016 10:34:21 -0700 (PDT) Clode, Cau, sem assinatura Depois de 37 anos um lugar quase faz parte de nós... |
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|