Noite estrelada e quente a negar o inverno ainda jovem, de apenas 33 dias. Algum véu apaga a maioria das estrelas, apesar da lua, quase crescente, já ter sumido além do horizonte. Noite cheia de sons, ainda que distantes, vozes dos homens e seus artefatos excitados, certamente, pela noite quente. Chega o som de um alto-falante, apenas perceptível, na certa a animar alguma festa, quiça resquício de junina. Ele tem sua própria voz, independente daquela que amplifica. Aproxima-se o meio da noite de verão perdida no inverno. Deliciosa noite extemporânea e, nela, luziam as estrelas... Em minha infância, o único álbum com uma ópera completa, em discos de 78 rotações num grosso álbum com muitos discos era 'Tosca' de Puccini. Dele, ouvia repetidamente uma área do terceiro ato: 'E lucevan le stelle'. Tinha dezesseis ou dezessete anos e acabara de terminar um namoro ou, melhor, ela o terminara. Não fazia a menor ideia de que, na ópera, o amante de Tosca, prestes a ser executado, o pintor Mario Cavaradossi, canta 'pensando alto', segundo o libreto. Tampouco compreendia que jamais voltaria a ter dezesseis ou dezessete anos. (A perspectiva da brevidade da vida torna-se mais nítida com a proximidade da morte.)
Todavia, compreendia perfeitamente o significado do verso 'Svanì per sempre il sogno mio d'amore' e era ele a me mover naquela adolescência, quando me parecia absolutamente impossível outra paixão... A natureza não descuida da multiplicação e nos subjuga com hormônios e atavismos para garantir a sucessão. Nesta noite estrelada e quente de um jovem inverno, as poucas estrelas desnudadas me trouxeram à música de Giacomo Puccini mais bela e serena do que me pareceu na alvorada dos anos sessenta. Como Cavaradossi, segui 'pensando alto', ao léu, porém, sem risco de se esvair mais nenhum sonho meu. |
25 de julho de 2012 07:32 O bom das suas crônicas é a vontade de ler mais uma vez, quando chegamos ao fim. sem assinatura Espero que a releitura não tenha mudado radicalmente sua opinião, pois a achei cheia de sabor e sabedoria. Bobagem imaginar algum 'desvio de caráter', não acho pouca coisa a opressão da metrópole e do trabalho com seu ritmo alucinado, mas acredito que passamos a olhar melhor o que nos rodeia depois de olharmos melhor para nós mesmos. 25 de julho de 2012 11:34 Crônica linda, querido Clode. Como tantas suas. sem assinatura Obrigado. Quando li seu comentário já era noite, ainda assim, bom dia! Tenho tentado me impor uma regra: só ligar o computador após o pôr-do-sol. 25 de julho de 2012 12:45 nossa Clode, que coisa bonita Simples, 'pensando alto'. 1 de agosto de 2012 00:46 oi Clode oi |
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|