O sabiá encontrou uma posição privilegiada no ramo, de onde consegue bicar o abacate no pé. Ao me aproximar para testemunhar seu banquete, ele nota e voa para um ramo distante, não abandona a árvore. Do alto, pode me vigiar. Nossa inveja das aves é tanta, apesar de toda conquista humana, a se estender nos olhos de águia, além do voar. Reaviva-se em cada um o deleite do grande sonho de Jung, olhar do alto, abarcar de cima tudo e além. Seja o formigueiro a nossos pés ou Paris, do alto da Eiffel ou a pele da Terra, da uma nave ou pelos olhos do satélite. Conquistamos, do alto, a ilusão de uma visão onisciente e invejamos, além das aves, os deuses!O sabiá sabiamente esperou, senhor de ótimas asas e olhos. Afastei-me e ele voltou ao repasto. Quando se proclamou azul o planeta, na exclamação do primeiro astronauta, que não poupou o "é linda!", sublinhou-se um encantamento que ainda perdura e tão cedo não desaparecerá. Olhar, no vazio, nossa casa envolta em nuvens à guisa de panos e véus e materializar mapas, planisférios e globos das aulas de geografia, é deleite especial para o ser que fareja com o olhar e descuida dos anzóis de um lindo rosto ou outras armadilhas a atiçar desejos, ser tão fácil de pescar com os encantamentos de aparências e, no entanto, incapaz de se enxergar. Ver, de perto ou do alto, os mistérios que se tecem em si. Perceber-se nos meandros de medos e volições, de ânsias e indolências a atapetar os passos da mente. A se perceber intrépido a abrir caminho às cegas e a devastar tanto ao redor. O grande vôo demanda outros ares... Voa página já quase descartada! |
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