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Profecia

24/02/00

 

Jacó amarra o pano na ponta da vara. Prende a vara no batente da porta. Algum tempo depois, vem a filha de Simão com a cesta de ovos e começa a barganhar. Inútil explicar a Jacó que, dentro de 4 ou 5 mil anos, será possível comprar ovos e tudo mais num supermercado, através da internet e pagar com cartão de crédito... Seria demais, por melhor que fosse o profeta. Mas o pedaço de pano na ponta da vara era eficaz na troca de sinais entre as duas propriedades. O número de tiras de pano e algumas cores permitiam variar um pouco as mensagens.

Hoje, o que surpreende não é o supermercado entregar as compras em casa. O espantoso é que se tenha perdido essa regalia, coisa banal para nossas avós.

Há mais de meio século, numa rua então sossegada de Botafogo, minha mãe usava e abusava da entrega domiciliar. Imagino que outras mães fizessem a mesma coisa e, provavelmente, todo mundo com telefone.

Em casa, ao lado do pesado aparelho negro, sempre à mão os números do armazém, da padaria, da farmácia, do armarinho etc. Os sites mais usados num caderno de favoritos (não era chamado assim e, muito menos, de bookmarks).

Cartão de crédito? Para quê? O dono do armazém era vizinho e conhecia o professor, meu pai, há mais tempo do que eu. Era na base da conta corrente, chamada de caderneta, coisa comum que deu na expressão freguês de caderneta. De tempos em tempos, um caixeiro - outra expressão esquecida! - do seu Manuel, por exemplo, trazia a caderneta para conferência e cobrança.

Havia o freguês, termo de mão dupla: vale para quem compra e para quem vende. Não se usava consumidor, cliente, fornecedor, atravessador etc. nem serviços de proteção ao... Era armazém de fulano, quitanda de sicrano... Depois, floresceram os supermercados mas, antes, muito antes, surgiu um novo tipo de tintura, que dava uma bela tonalidade vermelha nas tiras de pano da ponta da vara..

 

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