Crônica do dia
Publicação esporádica, a perder-se como berro de vaca, que todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

 

reporteresso

19/04/05

Para mim, toda noticia sempre chegou sob a tenebrosa sombra do patrocinador. Muito antes de saber ler, me invadiram os ouvidos - por que faltam pálpebras às orelhas? - os reporteressos que, desde o nome, vendiam o petróleo de milionários texanos, ou coisa que o valha. Reporteresso era como gilete, substantivo comum. Outros vendiam outros produtos. Também existiu Repórter Esso da tevê, mas nunca o vi.

Se o patrocínio de uma multinacional torna um noticiário suspeito, o que dizer hoje, que cada palavra que se fala no rádio tem lá seu patrocinador e mais, como os permissionários querem pagar menos aos funcionários, recheiam de informações desnecessárias e aborrecidas sobre toda a equipe. Para a notícia, já se vê, sobra muito pouco tempo. Afinal, notícia, que importa? - era só pretexto para se arranjar emprego, pensa a equipe, só importa arranjar clientes, confabulam permissionários, não passa de um meio de se arranjar espaço barato para divulgar o que nos interessa, cochicham os anunciantes. Ora, a notícia, dane-se a notícia!

Depois, veio a influência do sucesso das telenovelas. O país se gaba de entorpecer o povo com pílulas diárias de emoção e suspense - que está longe de um Hitchcock e não vai muito além de um "que acontecerá amanhã?" - e quer orientar os noticiários pela cartilha do departamento de novelas. Vieram as notícias em capítulos e manchetes anunciadas: "amanhã, nosso telejornal trará para vocês..."

Tudo pontilhado de lágrimas e ignorando o sentimento e sofrimento alheios, tudo sem fronteiras entre jornalismo e polícia.

O pior, todavia, ainda não se falou: como acreditar no que noticia fulano quando se pode esbarrar, depois, com voz ou imagem do mesmo fulano a pregar uso ou consumo de produto ou serviço, quiçá dos patrocinadores do tal noticiário ou de uma suas fatias? Agora, que até hora certa tem patrocinador!

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