crônica do dia

 

Sem final

06/08/01

 

Uma imagem de Garcia Marques me seduziu. Ela veio de sua "Oficina de Roteiro com Garcia Marques: Como Contar um Conto", traduzido para o português por Eric Nepomuceno, e editado pela Casa Jorge Editorial em 1997. Desde já devo confessar que folgo porque ele também não sabe o que fazer com a cena.

Um dos alunos da Oficina anuncia uma idéia para um filme de um minuto. Conta uma história que se passa num cenário de fim de guerra e destruição. Um soldado moribundo se arrasta até um general, quase morto, e lhe diz: "Senhor, ganhamos!" Os dois morrem. Garcia Marques replica:

Eu tenho outra. Sei que é o começo de um filme, mas nunca descobri como continua. Existe um enorme salão com vinte ou trinta moças belíssimas, totalmente nuas, fazendo ginástica rítmica. De repente, ouve-se um sino e uma voz: "Muito bem, meninas, a aula acabou". As moças correm para os vestiários. O salão fica deserto. As moças saem, vestidas. São todas freiras. É uma idéia que Buñuel teria adorado. Mas, enfim, chega de distração: vamos voltar aos nossos trinta minutos.

Parece que todos concordamos que Buñuel teria adorado as freirinhas totalmente nuas, moças belíssimas, fazendo ginástica rítmica. Por quê? Nossa capacidade de criar fantasias é fantástica, mas aparentemente, o inconsciente coletivo também acaba por criar fantasias coletivas, previsíveis demais.

Isso traz um tema que me é sempre bem-vindo: a sabedoria inata da exibição e o voyeur também espontâneo, natural. A natureza quase animal dessas características ligadas a cada sexo. Basta observar o prazer que cada um tira de olhar e de se exibir.

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