fotografia de circa 1962.

de esporadicidade imprevisível

Setembrinas

01/09/18

Aqui, nas proximidades do trópico de capricórnio, setembro veio seco e quente, quase sem vento a perturbar a atmosfera, mas com fortes ventanias no cenário eleitoral do impávido colosso auriverde. Na madrugada inaugural do mês, o ritual burlesco das altas cortes de justiça se envolveu na requintada esgrima verbal - ah, Homo verbalis! - que proibiu Lula, o ex-presidente e atual hóspede de um presídio paranaense, de se apresentar como candidato nas eleições cuja "propaganda" oficial começa... hoje, primeiro de setembro de 2018!

Datas, prazos e demais relações temporais são personagens também da pantomima judicial. Para apimentar mais o rito verborrágico a resultar em uma sentença com muitas possibilidades de interpretações - coerente com os costumes jurídicos - facultou-se ao prisioneiro participar da propaganda de seu partido em prol de outras candidaturas. Não foi estabelecido quando e como as equipes com câmaras, gravadores, equipamento de iluminação, microfones, rebatedores, cabos e fundos serão admitidos na cadeia ou se o prisioneiro será conduzido a algum estúdio, quiça em São Bernardo do Campo, São Paulo.

Enfim, afora essas miudezas, o dia segue azul, apesar de um tênue véu a turvar a limpidez dos céus, ensolarado e com a temperatura chegando, em pleno inverno, aos 27 centígrados (e ainda subirá!) Faltou mencionar, é óbvio, o guarda-roupa da encenação dos supremos julgadores, ornamentados com capas mais suntuosas que as usadas pelos membros do Supremo Tribunal Federal, debruadas com detalhes vermelhos inexistentes naquelas. Aliás, todo cenário era em tonalidades avermelhadas, coerente com o vestir do réu ausente.

o tribunal
O tribunal

Até quando continuaremos a nos agarrar às palavras como o náufrago à tábua de salvação, cegos para os fatos, para a verdade do que é sem verbalização? Setembro chegou.

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