O senhor Gouveia, chefe dos inspetores de disciplina, era baixo e barrigudo em minha lembrança de, então, adolescente. Era quem anotava nas cadernetas dos alunos indisciplinados, com caligrafia caprichada, reprimendas como "incurso no artigo 14 do R. I." ou qualquer outro "artigo" do tal Regimento Interno - onde cada número indicava mau comportamento na fila, no recreio, na sala de aula etc.

Nossa turma, porém, reunia a nata dos baderneiros e, inúmeras vezes sofreu castigo coletivo. Nessas ocasiões, ficávamos na sala de aula após o horário de saída, com alguma tarefa para executar. Seu Gouveia, então, mostrava uma faceta de amante da Poesia. Quase sempre o castigo era copiar um poema famoso - tínhamos a Antologia Nacional, de Fausto Barreto e Carlos de Laet, cheia de belos poemas e boa prosa - para um caderno.

Muitas vezes, entusiasmou-me a obra escolhida pelo chefe de disciplina, o seu Gouveia, e eu me envolvia com o poema, o relia e relia, em casa, até o decorar.

Alto lá! Ao buscar referências nos milhares de arquivos do sítio, descobri me repetir, apenas contando o já contado, em escancarada confirmação do rodriguiano nos repetirmos obsessivamente do berço ao túmulo, e a comprovar a insignificância de nossas memórias, vítimas de seus círculos viciosos.

Iria falar de I-juca-pirama, epopeia em versos de Gonçalves Dias e um dos temas dos castigos de seu Gouveia. Voltaram-me suas estrofes ao me ver, não cego como o pai do poema épico, mas "velho e alquebrado", nos dizeres dos versos e sob o carinho e o zelo de um filho bravo e generoso como o índio Tupi do poema.

Que importa o herói indígena, o poeta maranhense, o rabugento chefe dos inspetores? Importa, sim, a vida agora, a descoberta de se estar apenas a recontar velhas histórias, a vida sempre a se renovar, sempre inédita.

Mon, 26 Oct 2015 10:12:45 -0200

O eterno retorno... Abraço. Ebert

A memória é uma armadilha!

Tue, 27 Oct 2015 18:07:47 -0200

Mas que memória, Mermão...

Quantas minúcias do São Bento e a turma ao redor.
Do lado de cá, a maioria dos lances foram escorregando,
encolhendo, desmelinguido-se na esquina vizinha...
Mas lembro dos lances daquela coisa chamada
sexo... talvez a minha preferida. E nesse pedacinho
dá pra se divertir um pouquinho e isso já é um...
prazer.

Xiiii... lá vem de novo, em nome de jesus ou seja lá quem for...

respeitosamente... não respeito mais nada... kakakaka!!!

mermão

Daqui não irá "em nome de Jesus" nem de Maomé, Buda nem de ninguém. Estás a me confundir, pá?
Eu, meter-me com as religiões organizadas ou mesmo aquelas bagunçadas?
Não irá, podes crer.