Estatisticações
Em tempos de tanta estatística
a nos suprir e substituir razão,
a nos surrupiar, sorrateiras,
às vezes até a emoção,
eis aqui algumas mais,
um monte de dados calados
subsídios a escolhas,
lenha a voto e eleição -
cabresto de novos tempos
de quem se diz esclarecido
tomador de decisão,
formador de opinião.
Números, apenas números,
frios como a estação
a apontar se começa
mera invernada, inverno
ou o quê - o inferno?
Frio eterno a se prolongar
pelo curto exílio de um verão?
O sol estará a 152 milhões
36 mil 699 quilômetros de nós,
a 1,016 unidades astronômicas,
que é, exatamente a distância
Terra-Sol, medida de vaidade
como outrora, a polegada,
media aquela de um Rei.
No solstício de verão, serão
147 milhões 155 mil e 102
quilômetros a nos separar
diferença que não chega sequer
a cinco quilômetros - pouco mais
de três por cento: ninguém quer!
O dia, que hoje, aqui, tem só dez
horas e 41 minutos,
no solstício de verão se estenderá
por 13 horas e 35 minutos.
Agora, tonto de tanto dado,
resta ir à cabine,
confessionário indevassável,
frágil embalagem, papelão! -
cutucar de dedo em riste
delatar na calada do voto
se aqui se inaugura inverno
ou, golpista, dizer-se revolucionário
e tomar medidas provisórias
e outros tragos, para que se traga
e faça e cumpra, de pronto, verão.
Bom solstício para você,
qualquer que seja seu voto!
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