Anteontem abri a janela e, em meio ao mato viçoso, destacava-se um ponto branco imaculado: um cogumelo grande, desses com formato de sombrinha antiga ou cúpula. A umidade, que transformou quase tudo em água - a terra, o ar, as vestimentas e a alma -, essa umidade justificava ambos, a pujança do mato e a presença incomum do cogumelo. Ontem, já abri a janela com olhos curiosos e descobri que a parte de cima do talófito, abobadada, desaparecera. Do cogumelo impecável da véspera, da elegante sombrinha, restaram os raios, estrutura fina e igualmente bela, a imitar, antes, certas sombrinhas leves e planas, comuns nos circos. Hoje, nada mais restava. Não sei se algum comedor de cogumelos, a cada noite, se aproveitou da iguaria. Também ignoro como se acabam naturalmente os cogumelos. Aquele não era venenoso. Aprendi a reconhecer outro dia, em uma velha revista científica. Os perigosos tem uma bainha que os caracteriza, sempre. A bainha são restos de uma película que envolve o broto, antes que desabroche. Sobra algo parecido com uma saia, no meio do talo ou logo abaixo dos raios. Às vezes, ficam ambas, elas sempre existem nos venenosos, segundo a revista. Com calor e umidade, vida e morte se aceleram. A decomposição é mais rápida. A vida morta logo volta a viver. O mato ralo daqui do quintal torna nítida a diferença, que a temperatura e a umidade fazem. Talvez por isso as grandes florestas equatoriais resistam, por serem tão hostis ao homem... Ao contrário de todas as previsões, chove quase sem parar do lado de cá do fim do mundo. Os passarinhos e outras aves saem, mesmo debaixo d'água, atrás de comida no grande supermercado. Algumas coisas podem se tornar mais incômodas com a chuva, para bichos e gentes, mas sempre se dá uma jeito e as plantas, essas, sorriem com seu viço e exuberância, como os cachorros com o rabo. |
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