Sorteio
10/07/15
Corria o ano de 1966, sob Castelo Branco e eu, a duras penas, tentava ser repórter fotográfico, quando calhou de virem dois autores franceses lançar por aqui a tradução de seu livro (em dois volumes, capa dura e muito ilustrado) sobre a Segunda Guerra Mundial - título, também, da obra. Fez-se uma recepção para a imprensa com os costumeiros comes e bebes no Hotel Eldorado, afamado na época e no mesmo prédio do jornal Estado de São Paulo, na rua Major Quedinho. Ao final das entrevistas, os autores cujos nomes esqueci (eram editores da revista Paris Match), anunciaram o sorteio, entre os jornalistas presentes, de um exemplar da obra. Não sei se por virem da França, mas se esvaziou e enxugou um dos baldes de gelo usados para os bebes e se pediu para cada um colocar nele seu nome, rabiscado qualquer papel. Estava cheio, abafado, fumava-se sem restrições e o vozerio crescia, como acontece nessas reuniões. Não lembro quem foi convocado para enfiar a mão no balde, certamente a mais bela dama presente, e dali tirar o nome do "feliz ganhador" e deu-se a única vez de ser sorteado, em tantos anos de vida. Quando fui receber o brinde, se ouviu um murmúrio entre os convivas e logo alguém perguntou se 'um fotógrafo' poderia ser o vencedor. Tanto falaram e fizeram que os autores decidiram sortear outro exemplar da obra, agora, apenas para repórteres de texto. Curioso ter a guerra, nos livros, mais fotografias que palavras e pairar sobre aquelas cabeças o repetido bordão sobre o valor, em palavras, de uma imagem. Percebia-se um consenso sobre incongruência de fotógrafos como leitores. Herança dos processos evolutivos, além de competitivos admiramos tal comportamento e o estimulamos nos pequenos. Celebramos, nas disputas, com loas e brindes o vencedor, seja com champanhe, louro ou batatas. |
Fri, 10 Jul 2015 18:52:27 -0300 UAU!!! sem assinatura Se o ser humano não mudar, não muda e cada um só tem a si mesmo para operar a transformação... |
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