Domingo,28 de maio, onze horas e vinte minutos. Uma forte infiltração vinda do mar engole a cidade entre brumas a demonstrar as consequências da diminuição de energia nesta parte do Globo, neste trecho da Órbita. O alto do prédio distante apenas 200 metros é engolido completamente por nuvens baixas. Logo será meio-dia. Breve se inaugurarão inverno e verão. Outro prédio, mais longe e mais alto, deixou de existir para o olhar. A umidade, é óbvio, aumentou repentina e brutalmente. Tudo garante dias mais frios pela frente. Ao mesmo tempo, parece existir um misterioso aconchego ao sumir todo o longe e todo alto para o olhar. Com as fortes brumas surge um silêncio, uma quietude maior aparentando proteção a destacar nossa perene solidão. A contradizer tal sentimento, uma voz estridente e distante fala e fala como se não fosse jamais calar. A voz humana é instrumento peculiar e dela aprendemos muito independente da compreensão das palavras. Ante um grupo de estrangeiros a falar animadamente pela rua se pode captar todo significado emocional nas entonações e demais modulações das vozes. Aqui, não se compreende nada da fala a perfurar o ruço, mas é nítida a irritação da falante, a veemência de suas colocações, o caráter repreensivo do discurso, por fim concluído sem qualquer conteúdo literal ouvido. Soa alhures a décima segunda hora. Apesar da prioridade visual para o ser humano, a audição se impõe quase igual e abre um rico campo de informação e deleite. A exclusão de um imenso espaço engolido pelo ar úmido demais parece realçar a importância de cada som. Agora é meio-dia e com a infiltração a persistir e baixar ainda mais.
Ao cair a noite, a cidade ainda mergulhada em forte nebulosidade, soprada desde o Atlântico, assumiu um aspecto fantasmagórico com as luzes acesas difundidas pela neblina. |
Mon, 29 May 2017 10:12:24 -0700 (PDT) muito lindo, muito pertinente a cor das letras tbm, custei a entender hehehe sem assinatura Eis um belo exemplo do contraste entre os fatos e os mitos. Embora a rede social tenha amplificado tanto o rumor das ruas a ponto de ser percebido na Califórnia, aqui, em Copacabana, só soube da manifestação pelos jornais online, não ouvi nada, não percebi qualquer agitação... Não, fui engolido apenas pelo nevoeiro. Tue, 30 May 2017 20:11:17 -0300 https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/05/30/entenda-o-fog-carioca-que-fechou-o-santos-dumont-e-deu-ares-londrinos-ao-rio.htm sem assinatura O G1 também trouxe este "entenda" com fotografias feitas, se não me engano, da Vista Chinesa. Quando escrevi era o primeiro dia. Publiquei no dia seguinte, ainda sob sol. Saí para caminhar e, na volta, começou a fechar e a paisagem a desaparecer. |
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