Transbordamento de energia
27/10/16
Schopenhauer observa, no início de seu "O Amor" estarem os poetas habituados a pintar o amor e salienta: "Em vez de causar admiração que um filósofo procure também apoderar-se deste assunto, tema eterno de todos os poetas, deve antes surpreender que uma questão que representa na vida humana um papel tão importante tenha sido, até agora, descurado pelos filósofos e se encontre diante de nós como uma matéria nova." O ensaio de ontem martelou-me a consciência por abordar na superfície um tema "que representa na vida humana um papel tão importante", mesmo se Schopenhauer falou de amor e eu tenha falado, ontem, de paixão. As duas palavras são usadas para referir ampla gama de significados e não nos perderemos nisto. Inquietou-me, no fundo, uma questão de energia: o apaixonado experimenta um transbordamento de energia vital e se torna fisicamente capaz de feitos impossíveis em condições normais. Cito um exemplo pessoal: certa época, tomado por um desses êxtases dos apaixonados, tinha de subir, a cada dia, uma escada de 40 degraus e o fazia "sem esforço", de quatro em quatro. Passada a "paixão" a escadaria voltou a me parecer um sacrifício insuportável... Vêm, certamente, da percepção dessa energia os versos onde Piaf se diz pronta a qualquer proeza pedida por "seu amor". Diante desta constatação cogito: tanta energia, em si, é algo maravilhoso e possivelmente indispensável para erigir uma sociedade sã. Por que rotular de idiotas (desde Dostoiévski "idiota" me soa mais brando) os apaixonados, como fiz, os portadores de energia capaz de grandes feitos? A resposta talvez remeta a individualização da paixão, a não a vivenciarmos intransitiva. Todos os desmandos (inclusive mortes trágicas) viriam da existência do objeto da paixão. Seria possível estar apaixonado sem ser por algo em particular, paixão sem objeto? |
Thu, 27 Oct 2016 21:40:39 -0200 bom... sem assinatura Que bom que você sempre lê as bobagens que escrevo! Eu, que não sou sequer um jornalista, proponho: Thu, 27 Oct 2016 21:41:15 -0200 ... e as cores roxas são liiiindas... sem assinatura É uma foto antiga de uma flor de íris, superabundante lá na Granja... Fri, 28 Oct 2016 16:05:51 -0200 Muito bonita, amigo! Obrigado. Sat, 29 Oct 2016 19:31:51 -0700 (PDT) gostei muito da ideia de paixao sem objeto sem assinatura Não. Trata-se de uma íris. Plantadas por Anucha custaram muito a florescer. As primeiras só se abriram depois da morte dela. É uma planta espetacular que se reproduz com muita facilidade: Fri, 4 Nov 2016 18:22:13 -0200 ... acho que ainda não estou na fase sem assinatura muito sábia sua observação... |
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|