(de esporadicidade imprevisível)
Um grande mistério
31/01/18
A primeira sílaba, apenas uma vogal fechada e redonda, se prolongava qual mugido surdo em uma vocalização digna dos teatros de suspense, comuns no rádio daqueles tempos. A palavra, então inédita, se completava com gravidade, compatível com o clima introduzido pela sílaba inicial: o-mo, e era apenas isto. Foi marcante, naquele ano de 1957, a propaganda a introduzir, no Brasil, a "Velha Mãe Coruja", tradução de "Old Mother Owl", de onde teria vindo a sigla a nomear o famoso sabão em pó. Durante um bom tempo, se ouviu o mugido sonoro daquelas três letras a interromper a programação radiofônica sem mais explicações. Por toda parte se discutia o que seria "omo". No colégio, o assunto dominava a conversa dos adolescentes. Os palpites eram os mais estapafúrdios sobre o que poderia ser o tal "omo", ou a tal "omo", pois nem mesmo quanto ao gênero havia certeza. Ninguém sabia de que se tratava. Em minha lembrança, o "suspense" foi alimentado por cerca de um mês. Pelas ruas, na condução (lembrei-me da história por causa do bonde!), por toda parte surgiam hipóteses, criavam-se histórias para explicar o significado da misteriosa palavrinha. Hoje, o sabão em pó da Unilever (introduzido para concorrer com o Rinso, da mesma multinacional!) é familiar a qualquer pessoa. Na época, porém, aparecia como o primeiro na forma de um pó azul, associado pela cor ao uso do anil, então, largamente empregado pelas lavadeiras. Não vamos aqui discutir a brancura do branco nem a eficácia deste ou daquele alvejante e tampouco nos importa a cor do pó usado no tanque ou na máquina, sublinha-se apenas o extraordinário sucesso da campanha publicitária do lançamento de um produto com um nome sonoro e desconhecido. — Ôôôôôôôôôôôôôômo - ecoava nas rádios e uma única palavra sustentava o mistério: o que poderia ser? NOTA: Além do mistério criado pela introdução da nova palavra de forma muito criativa através do rádio, hoje, existe o mistério pessoal sobre a veracidade destes fatos, o efetivo impacto da campanha publicitária e, até, se ela existiu ou é apenas fruto da imaginação de um adolescente.
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Wed, 31 Jan 2018 10:30:02 -0200 Otíma recordação. Detalhe a considerar: o "lava mais branco" se deve a adição de um pigmento que reflete a luz ultravioleta, provocando um efeito parecido com roupas brancas iluminadas por "luz negra". É um segredo de polichineli, mas que obriga a fidelidade ao produto, pois se lavado com outro produto sem o pigmento, perde o "mais branco". Ebert, Wed, 31 Jan 2018 12:00:17 -0200 Que barato! Adorei! Ana, Wed, 31 Jan 2018 12:48:36 -0200 Muito legal, valeu! sem assinatura Obrigado. Wed, 31 Jan 2018 15:44:17 -0200 Sua recordação para mim é precisa, na medida em que coincide inteiramente com a minha. Não faz muito contei essa história numa turma e o ar geral era de incredulidade. Mas foi isso mesmo. O que eu não conhecia era o "old mother owl", que dá um toque naturalista a história toda. Aqui, o primeiro anuncio impresso (1957), pré máquina de lavar. Obrigado, muito obrigado pela confirmação. Wed, 31 Jan 2018 15:57:54 -0200 Depois da nossa troca de e-mails achei isso Genial, agradeço muitíssimo. Thu, 1 Feb 2018 15:03:22 -0200 vocês, estudantes de latim, pensaram em homo? homo sapiens? sem assinatura Não, por mim. Nunca pensei em Homo para explicar a propaganda. Nem sei se sabia o que Homo fosse aos 13 anos. Acho que não. Wed, 7 Feb 2018 15:08:59 -0800 (PST) nao sabia, nao sabia!! sem assinatura Curioso, né, se já existe quando nascemos, pouco importa se existe há um ou duzentos anos. O lançamento foi em 1957... |
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