de esporadicidade imprevisível

Um ponto final

04/10/17

Quantas vezes me detive nas minúcias de uma folha morta ou prestes a morrer! Lembro como acompanhei, cheio de curiosidade, o lento fenecer de um pé de Ipê e de uma Palmeira Imperial até os desenlaces finais. Vi a morte de bichos e plantas e testemunhei inúmeras vezes corpos se tornarem terra fértil, cadáveres animais e vegetais.

Tantas lições tornaram claro ser a vida um ciclo completo, com começo e um ponto final. Uma criança de um passado não muito distante, assim como uma atual porém vivendo no meio rural, convive muito cedo com a morte e isto a prepararia melhor para a perceber como necessária e natural, por mais difícil que cada final individual possa parecer.

No primeiro dia deste mês, um único homem, munido de inúmeras armas de fogo, matou dezenas e feriu centenas de outros seres humanos em Las Vegas, no oeste norte-americano, cidade celebrada por sua jogatina e devassidão.

O New York Times contabilizou, em editorial, 521 mortos naquele país, em ataques semelhantes, nos 477 dias anteriores à tragédia de Las Vegas. Quer dizer, mais de um cadáver por dia. Um abismo separa as mortes violentas do ponto final colocado pela própria vida em cada vida de um modo mais ou menos natural.

Acontecimentos como este de Las Vegas trazem à baila, tanto lá como cá, argumentos a favor e contra a posse e o uso de armas de fogo, instrumentos feitos para matar, com base na velha pólvora, considerada, nos bancos escolares, uma importante força propulsora do progresso da humanidade. A razão tece razões para qualquer argumentação, mas, com certeza, não se poder chegar à não violência por meio de mais violência.

Volta-me a imagem de minha mãe, já descrita aqui, ao esmagar com o dedo uma ou mais formiguinhas sobre a pia da cozinha e criar a parábola do dedo de Deus, um dia, pôr termo a nossa vida.

Wed, 4 Oct 2017 09:09:16 -0700 (PDT)

eh interessante essa imagem "do dedo de deus"
bjs

      sem assinatura

De sua mãe... sábia criatura.
Eu já a mencionara mais de uma vez.

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