Manhã de domingo esplêndida! A atmosfera suja, é verdade, mas o céu não se encobriu com nuvens e o sol despontou amarelado, num dia frio, mas seco. Um pica-pau de penacho amarelo-claro chegou com alarido e pousou na velha paineira, cheia de pequenas folhas muito novas, tenras e quase transparentes.
Sua cantoria logo atraiu outro, de cores iguais, que pousou num tronco morto, poucos metros adiante. O primeiro foi a seu encontro e, pouco depois, começou a dar bicadas no tronco e fazer o barulho de pica-pau. Outra ave passou em vôo rasante, com gritos fortes. Outro pica-pau. Os primeiros seguiram na mesma direção...
A manhã seguiu fria até o meio-dia. De repente, todos os cães começam a latir. Vou conferir a causa que já adivinho: passa um cachorro, levado na coleira pelo dono. Neste caso, o bicho ia com um casal em seu passeio dominical. Ele vestia bermudas que pareciam ter acabado de chegar da lavanderia e camiseta de um vermelho vivíssimo. Usava tênis vistosos. Ela ia mais discreta.
Já a segunda-feira chegou envolta em brumas e foi preciso começar o sopro frio do mar para dissipá-las e abrir caminho para o sol. Em vez do pica-pau, veio um urubu rondar por aqui. Primeiro, pousou no telhado imponente de ardósia da casa ao lado - imagino que por ser um telhado grande e escuro pode produzir correntes de ar do interesse de quem voa, em dias de calmaria - e, depois, com elegante volteio veio pousar no muro que divide os quintais. É uma ave enorme.
Mais tarde, o sol dominou, sem esperança das chuvas prometidas. O pó já incomoda. A natureza não tem agenda rígida nesses trópicos, nesses tempos desregrados por efeitos do transbordamento de gente. Algumas árvores ainda amarelam folhas que cairão, outras, já se vestem do viço dos brotos de folhas, tão irresistíveis como os bebês qualquer animal.
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