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Velhas histórias [2]18/07/02
E o texto seguia desembestado, cada vez menos interessante e mais picante, a se estender pelo equivalente a umas três destas crônicas. Tornava-se mais chato, com pretensões de abordar o tema de um trabalho que, como tantos outros, jamais se concluiu. No fim de semana, o encontrei, em folhas datilografadas com o desalinho e a marca dos tipos quase ilegíveis da Remington, em papel muito fino e amarelado, presas com um clipe enferrujado. Ler o que se escreveu há quase três décadas, se não parece reler, tampouco tem a surpresa do inédito. Carregamos penosamente a nós mesmos de um dia para o outro e, quando nos descobrimos mesmíssimos um quarto de século adiante, ou antes - tanto faz, depende do ponto de vista -, compreendemos que o galho se desenha quando cresce e busca luz, sem notar que, ao mesmo tempo, traça inexoravelmente forma e sina. O texto não tem data. Corrigiu-se acentuação e duas formas verbais. Foi tudo. No mais ficou como no original. Publique-se. Imprimátur. Nihil obstat. Salve Regina Mater. Mãe do tema que continua a fascinar. Daí a estupefação com nossa incapacidade do novo. Na passarela, a mulher pinta a mulher como mulher e como homem, como ser humano e como bicho, tão longe do inédito.
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