O aprendiz de cronista olha o dia incerto de um verão indeciso. Houve anos mais secos do que este, por enquanto, e outros de chuvas mais abundantes. Grandes nuvens brincam com o sol como mão ágil de um iluminador zombeteiro frente ao facho do spotlight.
Formigas interessadíssimas numa haste denunciam primeiras fases larvais de algum inseto sugador - pulgões, cochonilhas? Só mais tarde se explicitará.
O humor parece vacilar conforme a grande mão-nuvem tapa, ou não, o sol. Chega uma borboleta amarela. Pousa no arbusto que, em pouco, se encherá de flores desta cor. Pousa e logo alça vôo, some. (Anunciou-se para este ano uma reforma ortográfica de unificação lusófona na qual este acento de vôo seria eliminado. A partir de quando?)
Um vento maroto sopra como ameaça. A borboleta amarela passa de novo, mas não pára, segue seu rumo. À lupa, sou incapaz de dizer no que vão dar as larvas sugadoras, de um milímetro mais ou menos. Têm uma série de espinhos no meio do dorso e terminam em outro espinho que lhes repuxa o final do abdome para cima. São escuras.
Duas maritacas pousam, por um momento, no velho chico-magro. Não se trata de um bando, mas a gritaria, ainda assim, se impõe. O vento de rajadas faz as árvores acenarem. De novo, sem pousar, passam as maritacas gritando muito. Ao longe, um bem-te-vi insiste em declarar seu nome.
De repente, me parece que o iluminador zombeteiro põe ambas as mãos diante do spotlight e a umidade parece crescer como aviso que, logo, os pingos não conseguirão mais se sustentar em nuvens.
Corro para tirar a roupa, se descolorir nos lapsos de sol, da corda. Passa um helicóptero muito baixo e, por um segundo, parece que tudo vai desabar, tal o barulho da estranha máquina de voar. Quando transfiro a última peça de roupa, caem os primeiros pingos. A previsão do tempo acertou.
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