Vibrações
18/05/15
Manhã ensolarada de domingo, quase meio-dia e um falatório incompreensível misturado com música dá lugar a uma voz feminina aguda, esganiçada e cheia de emoção enraivecida, aparentemente a comandar uma platéia. Impossível compreender uma única palavra do discurso inflamado, no som muito amplificado e muito rebatido. Todo conteúdo verbal do discurso se perde, mas seu conteúdo emocional é inequívoco e a oradora parece se inflamar mais e mais e sua fala aos poucos se transforma em gritos. Silêncio por uns segundos. Entra uma voz masculina e, logo depois, outra voz feminina, moderada e calma. De novo a voz do homem. O volume é aumentado. Agora, outro homem grita, como se quisesse envolver os ouvintes. Parece comício.
Em nenhum momento se compreende qualquer palavra, como se o discurso fosse semelhante aos falsos textos usados para preencher espaço nos trabalhos de diagramação. O som aumenta mais e, entre muitos gritos, uma vogal se prolonga - pareceu-me um êêêêêêê sem fim, mas nem isto se pode afirmar. Como fundo sonoro da gritaria, a música é aumentada. Tantos decibéis, por fim, permitem entender: obrigado, gente! Obrigaaaaaaaado! Após uma pausa, volta a falação. Aproxima-se o ponto final. Passa pouco do meio-dia. Cumpre cuidar dos estômagos. A bagunça é comum por aqui, mas a janela de fundos só permite ouvir e não, ver. A voz humana leva longe muita informação sem necessidade das palavras. A emoção parece ser mais eloquente, diz pela inflexão, entonação, modulação, potência, dissonância da voz etc. Ficou claro, naquela primeira voz feminina, a busca de contagiar uma suposta audiência. Depois, o silêncio se povoa do piar dos pássaros. Por alguns instantes é tudo que se pode ouvir, mas logo uma sirene em desespero cresce e se avoluma e se aproxima. A condução é barulhenta demais. |
Mon, 18 May 2015 10:58:47 -0700 (PDT) e o mugido pra onde foi? sem assinatura Cada dia uso um modelo de página diferente (atualmente tem 66). Ontem comecei a incluir o cabeçalho nas croniquins enviadas por e-mail. Mon, 18 May 2015 16:13:52 -0300 Como conviver com tanto ruído? Como? Dostoievsky, em "Recordações da Casa dos Mortos" diz poder-se definir o ser humano como 'um animal capaz de se acostumar a qualquer coisa', mais ou menos isto, e venho confirmando vida afora a veracidade desta definição. De todo modo, foram só uns vinte minutos de barulheira infernal. Mon, 18 May 2015 22:00:36 -0300 genial! pareceu que eu tava aí ouvindo tudo. sem assinatura Foi escrito "ao vivo", isto é, em meio a barulheira que invadia tudo aqui. |
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