Em certa ocasião, calhou de me ficar um carro novo. Um amigo mo passou, comprado na véspera, pois a esposa detestara suas linhas e cor. Concretizava-se, assim, um pedido antigo de meu filho, estreante nos bancos escolares: "pai, compra um zerinho", e o dizia certo de mencionar uma marca e, não, um estado. Não se tratava de um zerinho zerinho, pois o amigo desvirginara o hodômetro ao tentar mostrar à mulher as vantagens do automóvel. Ela aceitou as vantagens, mas não o aspecto e, na manhã seguinte, o casal nos bateu à porta a bordo do problema, financiado e selado com a proposta de uma transferência e coisa e tal. Caído assim do céu, em pouco se resolvia a papelada da burocracia - quem é dono e quem deve e me vi, de novo, com carro, após dar de presente ao mecânico uma Vemaguete, cujo motor se derretera. Chegou-nos, então, um convite para um fim-de-semana nas praias paulistas e todos, convidados e anfitriões, embarcamos no Caravan recém-lançado, rumo ao mar pela estrada afora, em bela tarde ensolarada, cheios de bom humor. Na descida, o marcador de quilômetros rodados, o tal do hodômetro, que eu nunca soube levar na frente um agá, corria pelo século vinte: 1926, 1927, 1928 etc. Carro zerinho tem dessas coisas - contempla-se o passar da História no painel! Isto no divertiu, aos adultos, ao lembrar fatos da História ou das nossas historinhas pessoais ao girar de cada ano: olha, vai chegar 1945, a Guerra vai acabar! - exclamávamos. Destes feitos para cá o hodômetro dos anos, medida das voltas da Terra em sua estrada virtual, pulou umas trinta vezes, mais ou menos. Hoje dará mais um salto, do oito para o nove e seguiremos no século zerinho que, como o velho automóvel marrom, já não é tão zerinho assim... Plec! - dois mil e nove entra em cena no painel de nossas vidas! |
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