crônica do dia

2453400

29/01/05

Fazendas que jamais vi nem mesmo em sonho. Praias varridas por ventos que não ventam em outras maresias e nunca escutei. Tempos que não vi e tempos que não verei. Ah, ao poeta parece impossível zumbir longe do próprio umbigo, banir o eu de cada frase, mais: banir todo eu e permitir que o poeta morra, para nascer o que não se pode dizer. Mas palavras não podem conter o indizível e ainda uma vez reflui o amor que, feito palavra, a mais banal, é clamor de bilhões de bocas, bilhões de verdades sem amor, verbo só.

O hexágono inscrito. O lado é o raio. A chita bacana de toda Chiquita. O cacau venenoso de cada Macunaíma. O Esperança e o desespero. Cacos ruminados, vomitados, a encher a taça da vida vazia. Cubo de dois, quadrado de três, de cinco, 29, 47. Sessenta! Assim antigos procuravam esconder bobagens em entrelinhas. Segredos de alquimia de Chacrinhas e ratinhos medievais.

Monges circunspetos a desvendar mistérios ao vento, à beira-mar. Quatrocentos. Sessenta. Quinhentos e sessenta. Façam seus jogos senhores! Doces senhoras de pele impecável e cabeleiras sedosas observam indolentes. Vermelho dezoito, noves fora, zero, como Bandeira assinala para a vida. A areia da praia queima os pés. O odor dos fungos tudo impregna e mistura morte e vida. Um bando de pássaros em forma de fuso, amarelos e com as asas pretas vem cedo disputar os caquis bichados com grandes e negros marimbondos, insetos que também aparecem na época das jabuticabas. A vida e a morte andam de mãos dadas...

"a voz do dono"
no selo: "a voz do dono"

 

O poeta, agora, parece incapaz até de latir.

 

|home| |índice das crônicas| |mail| |anteriortem carta...

2453400.560