A melhor parte

06/08/16

Foi-se a melhor parte da Olimpíada, para mim, é óbvio. Isento, ou quase, do espírito de competição, o desfile das delegações possibilita uma alegria mais genuína, sorrisos mais autênticos, uma confraternização sincera e um panorama raro do que somos. As delegações ao desfilarem, uma após outra, sintetizam sob nossos olhos o que chamamos de humanidade.

Vemos, a poucos centímetros da objetiva, as mesmas reações, os mesmos gestos, alegria idêntica seja qual for a bandeira agitada por sobre os rostos. São fisionomias demasiadamente familiares, todas, independente da cor da pele, dos olhos, dos cabelos pois somos um mesmo ser humano e as diferenças superficiais se devem, principalmente, apenas à variação de insolação conforme a latitude.

A cerimônia de abertura é longa e cansativa, mas o desfile dos países propicia a transmudação dos conceitos abstratos de humanidade, dos mapas e seus contornos coloridos, das organizações multinacionais, das menções impassíveis dos noticiários sobre povos etc., a transmudação de tudo isto em algo palpável, perceptível seja pela razão ou pela emoção e quiçá mais, uma humanidade traduzida em termos essencialmente humanos.

Serão duas semanas de disputas coroadas por lágrimas de alegria ou tristeza. O congraçamento da cerimônia inaugural romper-se-á a dividir o Homem por cores de bandeiras, fronteiras físicas ou imaginarias, pelo estabelecimento de um "adversário", pelo acúmulo de vitórias e derrotas, num processo de fragmentação, como no mundo real.

Os entusiasmados, brincalhões e alegres desfilantes do longo séquito de delegações replicarão, sem o perceber provavelmente, o processo separatista que transformou o país nenhum paradisíaco de Adão e Eva na atual colcha de retalhos, a partir de hoje, septuagésimo primeiro aniversário da bomba de Hiroshima...

Sat, 6 Aug 2016 12:03:14 -0300

impecável. quando vi o desfile, claro que não pensei em nada disso, mas percebi minha curiosidade intensa de olhar cada delegação pra ver como é aquele país, como são as pessoas que nasceram lá.
Já eu gostei mais que tudo do Paulinho da Viola cantando o hino nacional com o violão dele. ADOREI isso e me emocionou. Gostei do espetáculo, detestei os longos discursos inúteis.

      sem assinatura


Sat, 6 Aug 2016 15:34:44 -0300

Muito bom, Clode!
Vc assistiu ontem a abertura?
Eu vi hoje uma parte, na casa dos meus sogros.
Achei bem lindo! Me surpreendi!

Obrigado.
Assisti também algumas partes. Outras são muito chatas.
Também me surpreendi, foi melhor do que imaginaria...


Sat, 6 Aug 2016 16:37:47 -0300

Bonita, Clôde, mas triste. Lembrar Hiroshima em conexão com isso...
Não sou otimista quanto ao futuro da humanidade, mas acho que várias gerações ainda vão viver esse caminho
até que tudo definitivamente desmorone - ou exploda? Quando era adolescente, era a guerra fria que me deprimia...
Bjs
Ana

Ana,

Que posso dizer... Não escolhi as datas e hoje é seis de agosto.
Acho que quando adolescente eu era meio alienado...
Hoje pensei: as mulheres têm mais empatia por lidarem mais com as crianças...
Não é preciso finda o mundo para haver o fim da humanidade. Como alguém observou, as baratas sobreviverão.

|home| |índice das crônicas| |mail|  |anterior|

2457607.09742.1458