fotografia de circa 1962.

de esporadicidade imprevisível

A Raposa e o tempo

14/11/18

O cheiro da Raposa alvoroça a criação. Galinhas cacarejam alto sem terem posto ovo algum, gansos grasnam e se alinham em formação militar marchando juntos, de asas semierguidas, unidos na mesma passada, patos alteiam suas vozes fanhosas, porém retumbantes enquanto as crias pequenas de todas as aves se misturam numa só piação. O cheiro da raposa está no ar, é preciso precaução. Como diziam as avós de todos os bichos, "seguro morreu de velho".

Assim nos vemos no presente interlúdio desses tempos melancólicos de entressafra do espírito. Todas as coisas aparentam ter-se posto em compasso de espera. Espera do fim do ano, espera dos novos governantes, espera de novas esperanças, novos sonhos cintilantes no bazar das ilusões. Enquanto isto o compasso de espera se impõe taciturno e silencioso. Os últimos grãos de areia afluem à abertura estreita da ampulheta.

Analistas profissionais arriscam previsões do imprevisível, buscam-se paralelos na História para arriscar palpites sobre o futuro. A reviravolta de comandos age como o sono para o corpo animal. Que bicho despertará em janeiro? Ninguém pode prever.

É tempo de arremates. Os ciclos se fecham e a vida segue surpreendente e desafiadora como sempre, apesar da prolongada pausa imposta pela partitura. Apenas o metrônomo tiquetaqueia monótono a sublinhar o enigma do tempo. Tempo, tempo, tempo, como lembrou-me outro dia um amigo, tempo cantado aqui e lá fora.

A Raposa está há muito afeita à fábula e o fabulador igualmente acostumado à mentira com que tece suas histórias. Perdemo-nos nas miudezas do dia a dia e o justificamos com os melhores argumentos. Em meio à presente entressafra, cumpre espichar o pescoço, não para alcançar as mais altas folhas de acácia, como a girafa, mas para obter ponto de vista a nos dar um horizonte mais amplo.

Thu, 15 Nov 2018 19:58:28 -0200

Parece que é "O segundo morreu de velho"

      sem assinatura

Se corriges o velho provérbio, creio que é "seguro" e não "segundo", como se confirma aqui.

Se, todavia, trocas as palavras com outra intenção, afirmo que para minha avó e para minha mãe era "seguro", mas aceito sua opinião. Quem seria "o segundo"? O segundo colocado nas eleições?

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