Publicação esporádica à guisa de crônica.

Saudações póstumas

13/11/18

Morre um fabricante de sonhos. De vários lados ecoam pesares pela morte de Stan Lee, criador do Homem Aranha, do Hulk e de mais uma legião de personagens de histórias em quadrinhos. Tinha 95 anos.

Todos os meios de comunicação entoam louvações ao morto e destacam seus heróis, ou melhor, super-heróis praticamente íntimos de todas as pessoas planeta afora. Claro, além dos quadrinhos, os superpoderes de Hollywood completaram a materialização e difusão das personagens.

Morre o criador, cala-se o cérebro que foi capaz de plasmar um sonho coletivo quase universal e o tornar quase real. Suas criações, todavia, cada uma de suas personagens permanecerá para a quase eternidade das personagens ficcionais.

Não é pouca coisa e destaca em nós esse aspecto exclusivo do bicho homem, essa capacidade de vivenciar simultaneamente duas realidades, a dos fatos e outra existente apenas em nossa mente, projetada por palavras, imagens e uma grande dose de imaginação.

Mas o que é a imaginação? O dicionário afirma ser a faculdade com que o espírito cria imagens, representações, fantasias. Tal faculdade parece determinar a separação do Homo dos demais primatas. Suas emoções podem ser movidas, até com grande amplitude, por feitos acontecidos exclusivamente em seu cérebro, tudo mera imaginação, obra de ficção, tudo mentira.

Não vou me embrenhar a perguntar: "mas que é o espírito?" para atolar-me em um pântano de onde só se sai ao afirmar serem crenças de pura fé, axiomas sem qualquer possibilidade de demonstração.

Aqui mesmo praticamos o exercício desta faculdade singular, de navegar pelos mares da imaginação, surfando na prancha do espírito, seja ele o que for, na espuma das palavras.

Saudações póstumas ao pai do Homem Aranha, do Hulk e de toda uma legião de personagens tão presentes no inconsciente coletivo.

Tue, 13 Nov 2018 15:16:49 -0800

Morre um fabricante de sonhos.
bela frase
a ultima tbm,
toda uma legião de personagens tão presentes no inconsciente coletivo.

bjs
PS nos aki 'lidamos' com 'mente', nao com 'espirito'
palavras, palavras, palavras ... bj

      sem assinatura

Obrigado.

Pois é, palavras, palavras, palavras. Eu não serviria para antropólogo: depois de cismar com o Homo verbalis, agora a mentira do universo ficcional me parece mais decisiva como aspecto exclusivo dos humanos... Mas se preocupe, não criarei o Homo mendax. As coisas são mais complexas que as aparências. A crença, o espírito, a alma...

Melhor parar.

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