autorretrato [] Crônica do dia

Abstinência

30/04/18

Nos últimos tempos, repriso o mesmo tema, bato na mesma tecla faltando-me, porém, a musicalidade e a malícia do Samba de uma Nota Só. Repito-me, não mais, diante do espanto advindo da humana dependência da palavra. Um belo dia, chamei nossa espécie de Homo verbalis, por supervalorizar a palavra e pela facilidade com que substituímos fatos por discursos, a realidade por uma ideia, malgrado nenhuma receita ou livro de culinária, por melhor que sejam, possam matar a fome.

Notei, outro dia, que um velho costume de olhar a televisão sem som, seja qual for a programação, pois a exclusão do discurso e dos barulhos, a faz suportável para mim. Olhar a televisão sem som enfatiza nossa crucial dependência do verbo, evidencia o quanto vivemos em um universo de conceitos, ideias, formulações e pensamentos traduzidos por palavras, o quanto nossa essência é verbal! Sem o texto, as imagens da televisão quase sempre não dizem nada...

O discurso, oral ou escrito, apazígua nossa mente ou, pelo menos, a entretêm, aplacando, assim, sua natural inquietação. Desde cedo somos educados para viver infindável nesse universo tecido por palavras, cujo ápice, seu Everest, se poderia pôr na abstração da Filosofia, em oposição às profundezas bênticas da matéria e da vida.

Quando não passava de um jovem, já me impressionava a colossal quantidade de livros escritos pela humanidade. Naquela época, com a arrogância típica da juventude, me imaginava capaz de os ler todos, se quisesse, ao longo da vida. Para os moços, o tempo aparenta ser infinito e os jovens não costumam ter em perspectiva a morte. Por outro lado, uma tal suposição fazia jus ao Homo verbalis! Em um universo de palavras ilimitado, um adolescente eterno viajaria para sempre sem qualquer fronteira...

Perdão, leitor, leitora, vou me abster deste tema.

 

Mon, 30 Apr 2018 18:51:16 -0700 (PDT)

isso quer dizer q vc adora (va) ler!
acho otima a "ambicao" de um adolescente de ler todos os livros
o sonho de um adolescente bem especial, eu diria, com fome de conhecimento

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Tenho lido muitíssimo ultimamente. Comecei com livros emprestados, no aniversário, Agatha Christie, por minha neta, e Rex Stout, por meu filho. Viciei-me em contos policiais e os tenho devorado sempre.

Quanto ao adolescente, acho que era a arrogância de supor-se um super-homem mais do que fome de conhecimento.


Wed, 2 May 2018 12:39:05 -0300

Te contei?
Eu também pensei um dia que teria tempo para ler todos os livros e o que é melhor ir em todos lugares, com o que eu tinha de tempo na época a terra não me parecia tão grande, a medida que o tempo passa a terra cresce para mim, reles mortal.

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Que legal! Não sou o único jovem presunçoso e meio doido!
Quanto a viajar, mesmo na juventude, preferi sempre permanecer em casa...


Fri, 4 May 2018 18:00:45 -0300

abster por que? eu gostei
Corrijo na própria crônica.

Notei, outro dia, que... que o que? falta conclusão da ideia, não? notei que. ponto. depois que faz a conclusão, na próxima fase. um velho costume de olhar a televisão sem som

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Não, tirando o complemento temporal ficaria:

    Notei que um velho costume de olhar a televisão sem som

Porque tentarei me abster de falar do Homo verbalis.

Mas é difícil!

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