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Ao relento¹

20/05/16

A umidade se impõe avassaladora. A água, mãe da vida, muda o granito em limo, aveluda tapetes de musgo a esmo e propicia vida e morte por toda parte. Fui talhado para climas secos e esse tempo de chuviscos intermináveis termina por me abater. Não falarei do galo lisboeta cor-de-rosa sobre a mesinha de pés palito nem da proliferação de poças por toda parte a convidar certos dípteros² mal-afamados a depositarem ali suas gerações vindouras.

Diz um boletim meteorológico: "No ES, no RJ e no sul, litoral e leste de SP há nuvens baixas associadas ao avanço de ar frio e úmido proveniente do Oceano" a trazer-me de volta uma imagem antiga de potente secador de cabelos, ligado sem aquecimento e apontado para a superfície da água em um recipiente qualquer. Nós seríamos os habitantes de suas bordas...

A roupa não seca, nada evapora, pois já há água demais no ar. Por baixo das folhas caídas do outono a vida encontra condições ideais para prosperar e, luxuriante, multiplicam-se minhocas, miriápodes, "tatuzinhos" e uma infinidade de pequenos animais e formas vegetais a brotarem aqui e ali como delicados cogumelos.

É tempo de goteiras, para quem tem telhado passível de gotejar - as folhas mortas do outono neles empilhadas transformam-se em terra preta da boa e cheirosa, empecilho decisivo ao livre fluir das águas telha abaixo. Quando há algum lampejo de luz solar as gotas muitas por toda parte tornam-se diamantes preciosos a cativar o olhar e minúsculas gotículas bordam desenhos surpreendentes nas teias de aranhas de jardim.

É o império das águas! Rega anual a dar de beber a todos os seres, a encher cada reservatório para os tempos de seca e provocar a exuberância da vida neste trópico. Com imagens resgatadas de outras plagas, afasto o abatimento trazido por tanta umidade "proveniente do Oceano".

Notas:

1. Escrito à noite sob chuva fina. Pela manhã não chovia e o céu se abria gradativamente. volta

2. ordem de insetos holometabólicos, com cerca de 150.000 espécies, de ampla dispersão no mundo, vulgarmente conhecidos por moscas, mosquitos e mutucas. volta

Fri, 20 May 2016 09:44:46 -0300

Oi, Clode
Nas últimas crônicas as notas em cor saíram com um tom clarinho, quase branco - difícil de ler. Será alguma graça do meu monitor?
Bjs
Ana

Oi, Ana,
Obrigado por avisar.
É culpa minha. Cada sistema e cada browser acabam mostrando uma cor diferente. Quis mudar a cara dos links com essa sofisticação boba e acabei quebrando a minha (cara). :-)
Vou voltar ao velho e bom sublinhado simplesmente.


Fri, 20 May 2016 09:00:18 -0700 (PDT)

belas imagens resgatadas de outras plagas ... reconheco-as
bjs

      sem assinatura

Pois é, a natureza aqui está mais longe...


Mon, 23 May 2016 17:19:53 -0300

muito bom, me senti encarcerada nessa umidade, mas imaginei Copacabana, não a Granja. Aí também tem teia de aranha e vida intensa sob as folhas de outono umidecidas?
só você mesmo pra chamar o popular, "mosquito da dengue" de "dípteros mal-afamados"!!!!
"bordas" do recipiente? ee isso mesmo? ou você nos coloca dentro d'águaaaaaaa????
você nasceu professor, nunca entendi essas "zonas" metereológicas (não sei se passei a entender agora, mas amei a imagem).


A propósito:


quem fez este desenho? olhos tão expressivos!

autorretrato abril de 2001

      sem assinatura

1. Como disse, são imagens resgatadas de outras plagas...
2. Existem aranhas em toda parte.
3. Não testemunho, mas certamente há uma explosão de vida sob as folhas mortas.
4. Sim, principalmente aqui estou NA BORDA e não no oceano Atlântico.
5. Você viu a imagem descrita na crônica de 2004?

É um auto retrato, de quando me aborrecia na equipe do Videobrasil(?), da Solange...


Wed, 25 May 2016 18:20:16 -0300

... pegando uma carona...
"ao relento..."
Como diz a canção, "são tantas coizinhas miúdas..."

      sem assinatura

O desinformado do seu irmão não conhece a canção...

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