Crônica do dia

Aranhas

18/04/05

Quatro patas de cada lado de um corpo rígido, sem cabeça, com vários olhos e instrumentos de caça e nutrição de um lado; uma bolota do outro, o abdome. Na pontinha do abdome ficam as fiandeiras, "tetas" de onde, em vez de leite, saem teias pois a maioria dos filhotes não precisa que a mamãe lhes dê de comer: comem os irmãos mais fracos. São, quase sempre, seis fiandeiras e aranhas escolhem o tipo de seda para cada finalidade: sustentação, captura, transporte, ninho etc.

Dentro desse esquema, o aspecto de uma aranha pode variar quase ao infinito, em tamanho, formato, cor, textura, "estampado" etc. Todas fazem teias, mas nem todas vivem sobre teias. Todas são venenosas, mas poucas, pouquíssimas oferecem perigo ao homem. Se não me engano só se fabrica soro para o veneno de três gêneros: as viúvas-negras, as armadeiras e as aranhas-marrons.

Vi a pequenina aranha, com uns dois centímetros de envergadura, se tanto, e o abdome completamente amarelo, na mesma tonalidade da flor sobre a qual estava, por que quando me aproximei ela correu. De outro modo jamais a teria visto. A flor ficava na altura dos olhos, a poucos palmos de distância - convite explícito ao voyeurismo biológico.

Correu e se escondeu entre as pétalas, deixou o abdome à vista e estendeu quatro "braços" imitando estames e anteras da flor. Fiquei lá, à espera como ela. Veio uma abelhinha pequena, preta. A aranha esticou mais as patas, quase tocou a abelha, que desistiu e se foi. O próximo a desistir fui eu.

Voltei, depois de alguns minutos e lá estava a aranha, com as quelíceras mergulhadas numa abelha preta, dessas inofensivas, que costumamos chamar "abelha-cachorro".

Quando alguém comenta que a natureza é cruel e somos seres civilizados e superiores, imagino logo a cena de um abatedouro ou, mesmo, de um simples açougue da idade-média...

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