Asas perdidas

20/08/14

Há sete anos, contou-se aqui, ou melhor nem se chegou a contar no metafórico relato de evocações e imprecisas lembranças, um efêmero momento de mútua excitação e muita voluptuosidade, provocado pelo acaso do encontro e a alta embriaguez de duas pessoas.

Um único comentário afirmou "o quarto parágrafo é demais..." em mensagem não assinada, que anônima permanece. Ontem, ao telefone, se assinalou a capacidade dos bichos, em particular os de nossa maior convivência, mais observados, a capacidade, dizia, de viver quase exclusivamente o presente sem pretender influir no futuro - daqui a um segundo ou um século - nem arrastar consigo o passado, fatos só existentes em nossas memórias, trazendo, assim, de volta o tema daquele quarto parágrafo.

A cadelinha manifesta grande angústia ao ver seu dono sair sem a levar. Quando seu amo volta, todavia, ela exulta de alegria sem o mínimo rancor por não ter ido e demonstra sua imensa afeição por quem a abandonou. Nós, em geral, trazemos do passado nossas mágoas, ofensas, julgamentos e tal carga turva o presente e impede o fluir, o fluxo da vida sempre inesperado, renovado e renovador.

Quem se depararia com alguém sem mil a prioris e antigas conclusões sobre a pessoa? Quase sempre levamos grosso catálogo de opiniões a respeito dos outros e isto torna impossível algo novo no reencontro. Ouvi muito o conselho "não diga que é, diga que está". Recomendação com intuito de manter viva a possibilidade de renovação, de dar ao outro a chance de ser outro, de deixar atrás o passado, como a saúva deixa as asas.

Devaneios e sonhos são fatos apenas na mente que os fabrica, enquanto o "lenço de seda finíssima" - lenço não, como disse então, cachecol, delicada echarpe de seda multicor e perfumada, propícia a evocações e provocações, a desvarios e alucinações.

Thu, 21 Aug 2014 10:00:43 -0700

cada vez mais sabio

lindo
bjs

      sem assinatura

Sábio nada, anyway, merci.


Tue, 23 Sep 2014 19:19:39 -0300

O povo anda olhando para trás. Daí que colisões e tropeços são inevitáveis. ro

"O povo" nos inclui. Como desafiava o pássaro (mainá) de Aldous Huxley, "aqui e agora".

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