autorretrato 

Balões

05/05/18

De repente, avultam-se para mim os balões, os balões de diálogo, o texto imprescindível das histórias em quadrinhos, inseridos nos balões como fala ou pensamento. A própria estrutura narrativa das histórias em quadrinhos impõe uma grande síntese, obriga um texto enxuto, reduz as palavras ao essencial.

Havia, lembro bem, fotonovelas, onde os discursos eram muito mais prolixos e acabavam funcionando como um livro fartamente ilustrado por fotografias. Os quadrinhos, ao contrário, usam em vez de fotografias desenhos, já de si muito mais sintéticos, e reduzem o texto a sua expressão mais simples em uma aula de concisão.

Na infância tem-se liberdade para abraçar as histórias em quadrinhos com a espontaneidade que merecem! Fosse qual fosse a personagem favorita, como crianças, rendíamo-nos ao meio (a mensagem em si, como queria McLuhan). Cativante era a forma de contar a história, o traço do desenhista e o texto enxuto, resumido ao essencial.

Muitas vezes um escritor, quando se lança a uma obra (romance, conto, ensaio, crônica, o que for) estende-se propositalmente, rebusca, floreia, adorna e espicha sua narrativa, pois não tem a limitação do balão a lhe exigir objetividade. Já o autor de textos para histórias desenhadas, de quadrinhos justapostos, é obrigado pela exiguidade de espaço ao máximo de concisão e isto é muito interessante!

Talvez aleguem que as limitações discursivas das histórias em quadrinhos restrinjam igualmente a profundidade e os temas possíveis de abordar. Talvez. Mas os balões das histórias em quadrinhos impuseram a concisão muito antes da limitação imposta pelos tweets, no seu lançamento.

De fato, algumas tiras contam piadas sem palavras, mas são temas curtos com três ou quatro quadrinhos. As histórias mais longas não prescindem dos balões e estes obrigam a textos sintéticos.

Sun, 06 May 2018 01:14:29 +0000

Excelente duvida lançada na idade das trevas

      sem assinatura

Oi, saudades de você.
Respeito muitíssimo suas palavras.
Obrigado.

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