Publicação esporádica, destinada a se perder como o mugido da vaca, que continua a mugir apesar de se declarar inútil seu berro.

 

Bifurcação

12/03/08

Ontem, na tela muda da televisão, vi Rolando Boldrin, sentado em um banco tendo ao lado, no mesmo banco, Dominguinhos, só sorriso a escutar o que ele narrava, com uma vivacidade cheia de ênfases na gesticulação, a uma platéia que se esbaldava de rir. O assunto pareceu tão engraçado que aumentei o volume em tempo de ouvir a piada, que me lembrou outra, a famosa piada da ligeireza. Conhecem?

Todo menino se encanta com a professora. Das meninas, não sei, mas para os meninos a 'fessora' sempre parece mais bonita do que é, mais dotada de sabedoria e atrativos do que a natureza e preparo lhe aquinhoaram de fato. Nas duas piadas a professora "de uma queda, vai ao chão", como na cantiga de roda - são piadas do tombo da professora.

Boldrin jogou, pelas mãos de um moleque, um casca de banana entre as carteiras, para a derrubar. Na outra, ela cai e não pode evitar, na queda, que a inércia e os reflexos de nervos e músculos ponham à mostra o que pudor e costumes proíbem ostentar. Nas duas piadas é este o propósito da queda.

Consciente do espetáculo involuntário que propiciara, a mestra se ergue, se ajeita o mais rápido que pode e, refeita ante os pupilos, os questiona... É aqui a bifurcação, cada piada segue um rumo. Em uma, ante embriões de olhares zombeteiros, ela diz apenas:

- Viu... vocês viram minha ligeireza?

Na outra, questiona cada aluno, quer saber quanto cada um viu e, a medida que as respostas sobem por suas pernas, ela define um castigo proporcional ao desfrute. Suspenso, suspenso três dias etc. Aí, um aluno se encaminha para sair. Ela o questiona, ele explica: estou expulso!

Volto à molecada que cala, tensa, diante da pergunta da professora: viram minha ligeireza? Ninguém diz nada até que o Juquinha se adianta e fala:

- Ver, eu vi, mas não sabia que se chamava assim, não...

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