Camelôs

04/08/99

 

Chega uma mensagem sintética: "Quando é que você vai atualizar esta crônica?" A linha, com data de três de agosto, se refere ao panfleto publicado em 27 de julho. O dado leva a duas observações. Primeiro, que a última leitora desta página tornou-se tão esporádica quanto a crônica - passaram-se sete dias. Depois, jamais pretendi fazer panfletagem aqui. Cedi a pressões de circunstâncias e tentei, sem sucesso, um balcão de vendas - nem isso, um tabuleiro de camelô. Faltou competência. Sobrou amargura.

O comprar e vender continua a me intrigar até hoje. O vizinho mandou um funcionário humilde vir pedir para cortar três bambus que brotaram pelo lado de fora da cerca, mostrando a arbitrariedade dos limites traçados pelo homem. No dia seguinte, voltou o mensageiro e serviçal para pedir mais três que, agora, teriam que ser cortados do lado de dentro da cerca. Disse que sim, mas em outra ocasião, pois estava ocupado. Pensei comigo que poderia propor a venda dos bambus. Por que não? Pensamento trazido, sem dúvida, pelas mesmas razões que motivaram o horroroso panfleto. "Do real" cada vara e ele poderia levar quantas quisesse. Levava cinco, já seriam uns seis dólares - money, business!

Ontem, para ser exato, voltou o funcionário com o filho adolescente do tal vizinho - queriam os três bambus. Disse para pegarem. O primeiro que escolheram para cortar caiu por cima dos fios. O funcionário dizia que a vara estava dando choque. Eu via a hora que ficaria sem luz, se os fios, na rua, se rompessem. Quando conseguiram se livrar dos primeiros, o bambu caiu sobre os fios do telefone. O risco passou para outra empresa privada que, como diz um amigo, são mesmo privadas. Falei para cortarem do outro lado, para evita os fios.

Depois do terceiro bambu, o menino escolheu um quarto. Ele comandava a ação e o serviçal tinha um comportamento irritantemente submisso - sua excelência o adolescente, o filho do patrão! Depois, foi o quinto, o sexto... quando ouvi que ele atacou um sétimo, com o facão, fui ver. Estava do lado dos fios. Mandei parar. Ponto final. Em que mundo estamos? Por que ele mencionou três, se queria todos? Por que agiu tentando ludibriar ou agir sub-repticiamente?

Recebo uma circular, opcional, periódica, que se propõe a ensinar a fazer "melhores páginas" para a Internet. Foi bem feita, tempos atrás. Agora, trata quase que exclusivamente dos aspectos comerciais e é assinada por uma mulher. Em um dos números ela começa lembrando: "havia uma canção, que cantávamos nos acampamentos de verão, que dizia: faça novos amigos e mantenha os antigos; aqueles são prata e estes, ouro." Diz ela que todo americano seria capaz de "ouvir" a melodia. A introdução, no entanto, serve apenas para concluir, literalmente: "A canção é apenas outra forma de dizer que é mais barato manter o consumidor do que obter um novo." Cuidado, seu amigo pode ser apenas um camelô...

 

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