desenho de Lu Guidorzi
basta um clique! 

berro - a parte inútil da vaca
Publicação esporádica destinada a perder-se como berro de vaca que, todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

Canal do descobrimento

5/11/2004

Explicações explicam, mas compreender é outra coisa. Livros ensinam, mas para aprender é preciso mais.

Um sabiá grande, de penas brilhantes e peito laranja escuro, chegou irrequieto, cauteloso à beira do barranco. Pouco a pouco, invadiu o território do eremita e do cão.

As chuvas deixaram um tapete de musgo e nelas havia algo que atraía o sabiá. Ali mesmo, há alguns dias, o cachorro matou um filhote de sabiá, que viu correr como rato rente ao barranco, ainda, incapaz de voar.

Poucos adiante, explodia nova florada das flores aqui citadas nos dias 3 e 10 de novembro do ano passado. A natureza é mais regular que se supõe, apesar de secas ou da abundância de chuvas.

Olhei com calma a relação das abelhas com as flores, que disse, ano passado, não serem "bem azul, lilás talvez, com reflexos magenta e roxo conforme a luz".

É um relacionamento complicado e fascinante. O que atrai os insetos se esconde em dobra especial de três pétalas verticais, que formam quase um vaso, no centro de uma bandeja, que três pétalas horizontais definem.

Bem no centro do vaso, há uma espécie de tripé, vertical, com uma perna voltada para cada pétala vertical. Claro, se trata de um tripé cheio, e não formado apenas pelas perninhas, como os de fotografia.

A armadilha funciona assim: no alto do tripé estão os órgãos sexuais femininos da flor, em belo azul-celeste. Nas pernas está o pólen - espermatozóide das plantas. O objetivo é evitar a auto fecundação para haver troca de genes, seleção etc.

Para atingir seu néctar na tal dobra, a abelha precisa fazer uma manobra no alto da pétala, de cabeça para baixo, de sorte que o dorso de seu abdômen roça no tripé e nele se grudam muitos grãos de pólen. Na próxima visita...
 
É bom ver elefantes e zebras na tevê, quando não se pode fazer um safári, mas o verdadeiro canal do descobrimento está em nós.

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