Fri Mar 5 19:57:23 1999

 

Li a sua crônica. Coincidentemente, minha gata Diana está sentada, em postura de esfinge, sobre minha pasta parda denominada "Planilha de Pagamentos". Ela está completamente zen, estado que eu gostaria de alcançar.

É verdade. Continuo aprendendo com ela. Bocejou. Diana, a caçadora. Nada nela é casual. Outro dia, na passagem de ano, fiz uma faxina geral na casa. Tirei tudo do lugar, limpei, arrumei, incensei. A gata só olhava. Quando tudo estava pronto, ouvi aquele miado longo, estranho. Desci as escadas correndo e topei com ela toda eriçada, jogando pra lá e pra cá, como se fosse farrapo, um pequeno morcego. Obrigada querida, acho que a limpeza agora terminou.

Senti certo orgulho de ver que a minha gata, embora domesticada, ainda seguia seus instintos. Mas, poucos dias depois, me horrorizei diante da mesma constatação. Pois ela, numa atitude animalesca, caçava um delicado beija-flor. Que rapidez, que acuidade, que tudo... Que nada. Que estupidez. Depois que o pássaro desistiu de se debater, pescoço quebrado, ela olhou meu grito de horror e, com desdém mas ligeiramente orgulhosa, saiu rebolando, missão cumprida. Peguei o pequeno pássaro nas mãos, ainda quente. O morcego estava jogado no lixo. A gata estava sentada na poltrona. O beija-flor tremia, agonizante. Quando ele morreu, mais de uma hora depois, me senti culpada por ter prolongado o seu sofrimento. Impotente para intervir nas forças instintivas da natureza. Burra. Sem entender nada. E tudo era tão simples...

 

Lindo! Melhor que qualquer crônica do...


cronistaprendiz

 

 

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